[Passageiro #14] Nós sempre teremos a Itália
Entre check-ins e check-outs, o que será de nós?
Para ler ouvindo: Nànnuflày, por Tinariwen (feat. Kurt Vile e o saudoso Mark Lanegan).
1.
O vento gelado, o cheiro de fumaça que impregna nossas roupas desde que chegamos aqui e ainda não sabemos de onde vem, os jovens bebericando taças de aperol spritz no Cafè del Mar e fumando cigarros eletrônicos ou não, uma pessoa solitária com um saco de roupas sujas na lavanderia self service da Via Francesco Ferrucci. Tudo está igual desde que partimos da Marina di Cecina há vinte dias para uma viagem por Lisboa, Barcelona e Valência, mas algo mudou: um sentimento bom de voltar para casa; ainda que essa não seja a nossa casa.
Minha pilha de livros, os produtos de skincare de I., a pimenta Tabasco, uma lata de sardinha, as sacolas sustentáveis que usamos no Conad, a cafeteira italiana que compramos no Conad, todas as outras coisas que compramos no Conad, nossas roupas no armário do quarto, o nosso quarto. Tudo da maneira que deixamos quando pegamos o trem em direção ao aeroporto de Roma.
Nos últimos anos foram dezenas de check-ins e check-outs ao redor do mundo sem nunca termos um lugar para voltar – I. e eu moramos juntos em Airbnbs desde o dia em que nos conhecemos pessoalmente. Nunca tivemos uma casa, um lar, um lugar para voltar, de modo que encontrar nossas coisas da exata maneira em que as deixamos, após vinte dias viajando, reforçou aquilo que lá no fundo já sabíamos há algum tempo: os dias nômades estão chegando ao fim.
2.
Brasil, Argentina, Brasil de novo, Etiópia, África do Sul, Macedônia do Norte, Inglaterra, México, Panamá, Brasil de novo, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Brasil de novo, Itália, Portugal, Espanha, Itália de novo.
Check-ins e check-outs desde que estamos juntos (outubro de 2020).
Amanhã é de dia de check-out na Itália e check-in na Albânia.
3.
Não consegui finalizar o livro nos três meses morando em uma cidadezinha na costa da Toscana, mas ele ganhou corpo.
Tem um conceito, um ritmo e eu criei uma rotina de escrita. Toda manhã em que me sento para escrever sei exatamente de onde devo partir. As pontas estão amarradas. Agora é questão de tempo. Os três meses iniciais talvez virem seis, nove, doze, não sei. Vou parar de contar e escrever. Apenas escrever.
Enquanto isso, as contas precisam ser pagas. Abri minha agenda de 2023 para palestras e treinamentos in company. Também tenho quatro cursos online com inscrições abertas. Conhece alguém que possa se interessar? Compartilhar esses links por aí me ajudaria muito.
4.
Ontem I. deu entrada na última parte do processo de cidadania italiana. O prazo final para o reconhecimento é 06 de junho de 2023. Quando voltarmos ao país, I. será cidadã italiana – e eu casado com uma cidadã italiana.
Tudo é passageiro, nossos planos mudam o tempo todo, não sei o que o futuro nos reserva (Lisboa, talvez?), mas a partir de junho algo é certo: nós sempre teremos a Itália.
✍️ Notas:
Você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Viajar para escrever? Ou escrever para viajar? No meu curso de Escrita de Viagem você aprenderá a dar uma estrutura diferente à sua narrativa. O curso é teórico-prático e destina-se a quem quer explorar esse tipo de narrativa de um modo pessoal, focando o que se vive na estrada através dos sentidos (externos) e das emoções (internos). Garanta a sua vaga neste link.
Cara, sinceramente seu estilo é tão bonito... Você escreve de uma maneira simples e fluída e, de fato, nos leva pelos lugares onde você já andou.
Essa newsletter fica cada dia melhor.
Ainda não saí do Brasil, mas por conta desses textos, tenho viajado por várias partes do mundo há alguns dias.