[Passageiro #68] Medo e delírio nas Olimpíadas de Paris
Este intrépido escritor cobrirá os Jogos Olímpicos de Paris; e sem um chefe na cola.
Para ler ouvindo1: Mr. Tambourine Man, por Bob Dylan.
1.
"O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade."
Embora a frase não seja sua – um bispo inglês a teria dito em um ato religioso antes dos Jogos Olímpicos de 1908 –, esse era o lema do educador e Barão francês Pierre de Coubertin.
Em 1892, Pierre de Coubertin apresentou na Universidade Sorbonne, em Paris, um estudo sobre "Os exercícios físicos no mundo moderno". Sua ideia era recriar os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, mas seu projeto não foi bem aceito.
Mesmo assim, Pierre de Coubertin não desistiu. Numa convenção realizada em 1894 na própria Universidade de Sorbonne, que contou com delegados de 13 países, o Barão conseguiu a promessa dos gregos de abrigar os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna; o primeiro em mais de 1.500 anos. No mesmo ano nascia o Comitê Olímpico Internacional (COI), com o objetivo de organizar uma nova edição dos Jogos a cada quatro anos, promovendo, assim, a união entre os países.
A primeira edição das Olimpíadas da Era Moderna foi marcada para a primavera de 1896, em Atenas, após o rei Jorge I ceder a cidade para a realização dos Jogos. No dia 6 de janeiro de 1896, a chama olímpica pôde, enfim, brilhar novamente; recomeçavam os Jogos Olímpicos com a presença de 13 países e 311 atletas.
Um pouco antes do início dos Jogos de Atenas, Pierre de Coubertin assumiu a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI); cargo que ocupou até 1925. Morreria pobre e isolado, em 2 de setembro de 1937, em Genebra, na Suíça, após ter gasto toda a sua fortuna com o sonho de reavivar os Jogos Olímpicos. Como forma de reconhecimento pelo seu esforço, o coração de Pierre de Coubertin foi transportado para Olímpia, na Grécia, onde repousa até hoje em um mausoléu.
2.
Em maio de 1970 o ilustrador britânico Ralph Steadman viajou para os Estados Unidos em busca de trabalho. Steadman rapidamente conseguiu uma boquinha como cartunista em um jornal literário chamado Scanlan's Monthly e sua primeira missão foi cobrir o Kentucky Derby2 na companhia de um tal escritor chamado Hunter S. Thompson. Eles não se conheciam. Do final de semana cheio de bebidas y otras cositas más em que o que menos fizeram foi assistir corridas de cavalo, nasceria o inovador ensaio The Kentucky Derby Is Decadent and Depraved, que levaria HST ao estrelato e seria a base para o seu "jornalismo gonzo"; cuja estética visual é associada às obras surreais de Steadman; foi Steadman quem fez a icônica ilustração da capa de Medo e delírio em Las Vegas.
No documentário For No Good Reason, que explora a vida e a arte de Steadman, o ex-parceiro de HST explica que o jornalismo gonzo “é quando você vai cobrir uma história, ostensivamente, mas na verdade você não cobre a história, você se torna a história".
3.
Uma década antes de escrever o ensaio sobre o Kentucky Derby, HST mudou-se para San Juan, em Porto Rico, para trabalhar em uma revista esportiva chamada El Sportivo; ele tinha 24 anos. O El Esportivo fecharia suas portas logo em seguida, mas a experiência como jornalista esportivo em Porto Rico serviu como base para a autoficção Rum: diário de jornalista bêbado (que, assim como Medo e delírio em Las Vegas, também virou filme com Johnny Depp no papel principal; foi Depp quem, inclusive, encontrou o manuscrito na cabana de HST e o encorajou a publica-lo trinta anos depois; o livro havia sido rejeitado diversas vezes quando HST era mais jovem).
Após o fechamento do El Esportivo, HST ainda trabalharia como correspondente em alguns países da América do Sul; chegou a passar um tempo no Rio de Janeiro e estava no Brasil quando os militares articulavam uma forma de derrubar o governo de João Goulart para tentar pôr em prática uma administração que zelasse “pela família e pelos bons costumes”.
Seu último trabalho na grande mídia foi como colunista de esportes na ESPN; entre 2000 e 2005, ano de sua morte, escreveu principalmente sobre uma das suas maiores paixões: futebol (não o praticado pelo resto do mundo, mas o estadunidense, aquele sem graça jogado com as mãos).
4.
“Não estamos trabalhando com crônicas”, me diz o editor de um dos maiores jornais do país.
Há umas semanas postei em minhas redes sociais sobre uma ideia maluca que tive de cobrir os Jogos Olímpicos de Paris (para um grande veículo ou, em último caso, na minha própria newsletter); o esporte sempre foi algo importante na minha vida; uma das minhas primeiras lembranças de eventos esportivos é Atlanta 1996 – o gol do nigeriano Kanu na prorrogação dói até hoje.
Das poucas pessoas que trabalham na grande mídia que conversei, quase ninguém se interessou; e quem se interessou pela cobertura não queria exatamente o que eu queria. A ideia era fazer algo meio HST (sem as substâncias ilícitas), contar as histórias que ninguém conta, buscar personagens interessantes nos esportes sem muita audiência, tentar fazer algo diferente, mas no final do dia o que conta hoje no jornalismo são os cliques; que de modo geral são alcançados através de conteúdos descartáveis em vídeos nas redes sociais; eu não queria fazer isso; queria empreender uma tentativa de jornalismo literário.
Ainda não sei como isso aconteceu, mas na última semana recebi um e-mail do órgão responsável pelo credenciamento dos Jogos Olímpicos de Paris; por algum motivo que desconheço eu estava no mailing deles.
Li os requisitos nos mínimos detalhes, escrevi um mini projetinho e cadastrei a newsletter Passageiro como veículo de mídia. Para a minha surpresa, deu certo; e de quebra meu perfil no Instagram cumpre os requisitos para o credenciamento como creator (algo que pretendo explorar comercialmente; alô, marcas!).
Medo e delírio nas Olimpíadas de Paris é o nome da newsletter dentro da newsletter onde, já a partir das próximas semanas – em uma espécie de aquecimento –, farei a cobertura em texto que eu sempre quis fazer.
Se não consigo vencer os grandes, os algoritmos e o tipo de conteúdo que é produzido em redes focadas em vídeo, posso pelo menos competir; e farei isso com dignidade; do meu jeito.
Em breve mais novidades.
🧳 Clube Passageiro
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens – em encontros via Google Meet com duas ou mais horas de duração.
Em nosso último encontro tivemos a presença especial do
, do Tira do Papel, que compartilhou as suas Ferramentas para sair do bloqueio criativo. A gravação do papo ainda está disponível para novos assinantes.👨🎓 Cursos com inscrições abertas
✍️ Escrita Criativa
(apenas 12x de R$ 58,16)
Aulas gravadas; acesso vitalício. Informações aqui.
🎒 Escrita de Viagem
(apenas 12x de R$ 39,62)
Aulas gravadas; acesso vitalício. Informações aqui.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
A Sessão da Tarde completa 50 anos e fiquei surpreso ao saber que o primeiro filme exibido foi 8 ½, de Federico Fellini (falei dele na 2ª edição da newsletter).
Para quem curte Hunter S. Thompson, vale ler a sua autobiografia Reino do medo.
Um fã organizou todas as colunas de Hunter S. Thompson na ESPN (em inglês).
Colocar e (também) tirar do papel. Vale ler esse texto da
.Saiu temporada nova de Somebody Feed Phil na Netflix; série que une comida e viagens; ótima para passar o tempo.
Nick Cave continua com a temática religiosa do seu último álbum em Wild God, primeiro single do seu próximo álbum dos Bad Seeds.
HOMESHAKE, o projeto musical do canadense Peter Sagar (que tocava na banda do Mac DeMarco), voltou e está meio grunge. Ouça o álbum CD Wallet.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
Qual filme passou na Sessão da Tarde quando você nasceu? Faça o teste aqui. Em 25 de maio de 1989, quando nasci, o filme foi Cuidado com o Meu Guarda-Costas.
✍️ Notas de rodapé
Você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Uma competição de turfe disputada anualmente no hipódromo de Churchill Downs em Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos.
que legal que deu certo! lembro que te mandei um link para o cadastramento de imprensa, mas lá dizia que já não estavam aceitando mais inscrições. vou acompanhar sua cobertura por aqui. parabéns e boa sorte!
Que privilégio acompanhar as Olimpíadas de pertinho. Aproveita!