Para ler ouvindo: I Killed Captain Cook, por Unknown Mortal Orchestra.
1.
Não imaginei que começaria 2023 escrevendo isso, mas estou na Albânia. Na vida nômade, o plano geralmente é não ter plano.
Se você acompanha esta newsletter desde a sua primeira edição, deve saber que eu até tinha um plano: aproveitar os três meses que I. e eu ficaríamos em uma cidadezinha na costa da Toscana – ela está no meio do processo de obtenção da cidadania italiana – para escrever meu próximo livro. Bom, os três meses se passaram, não terminei de escrever o livro, meu visto venceu e é por isso que estamos na Albânia – ela poderia ficar na Itália, mas eu precisava sair do Espaço de Schengen; viemos os dois para Sarandë, uma cidade praiana banhada pelo Mar do Mediterrâneo.
Viver uma vida nômade e ter a oportunidade de viajar o mundo enquanto trabalho, coisa que faço desde 2017, na imensa maioria das vezes é tão incrível quanto parece. Quando me chamam para entrevistas, lives e podcasts para responder as mesmas perguntas sobre nomadismo digital, costumam me questionar sobre os contras deste estilo de vida. Tenho uma resposta ensaiada sobre “quem sente mais é quem fica”, sobre como “estou sempre tendo novos estímulos e sequer há tempo para sentir saudades”, sobre como “espero não ser um filho ruim”.
O processo de escrita de Passageiro tem me mostrado um outro contra: a quebra de rotina provocada por uma mudança – de cidade ou país. Os primeiros rascunhos do livro são de 2019. Diferente de Nômade Digital, em que pude reaproveitar conteúdos publicados no meu blog e nas redes sociais e adaptá-los para a obra, Passageiro está sendo escrito do zero, sem um outline, sem tópicos e subtópicos. É um processo completamente diferente do livro anterior, escrito no estilo projeto de TCC, em que você tem um objetivo geral, objetivos específicos, uma justificativa e um sumário como ponto de partida.
Nômade Digital também foi escrito na estrada, entre um Airbnb e outro, mas sinto que essa quebra de rotina é o que está transformando Passageiro no meu Chinese Democracy – o álbum do Guns N’ Roses que demorou 17 anos para ser lançado.
Embora eu não tenha conseguido cumprir o plano original de escrevê-lo durante os três meses na Toscana, esse tempo serviu para dar um gás no projeto e deixar tudo amarradinho. No último dos três meses, no entanto, viajamos durante 20 dias por Portugal e Espanha – e foi aí que o barraco desabou; nessa que minha rotina se perdeu.
2.
No último ano li muitas matérias sobre como a Albânia tem atraído cada vez mais turistas e nômades digitais por conta das praias paradisíacas e do baixo custo de vida. Banhada pelo Adriático, Mar que é uma espécie de Caribe do Mediterrâneo, e vizinha de Grécia e Itália, junta o que há de melhor nestas regiões, do clima à comida, com uma enorme vantagem: os preços são muito, muito mais competitivos.
Como é inverno por aqui e estamos na baixa temporada, o custo está ainda menor, o que nos deu a oportunidade de alugar um belo apartamento com vista para a praia. Qual escritor ou escritora nunca sonhou em escrever um livro de frente para o mar? Pois é.
Minha nova rotina em nada lembra o ambiente gelado e melancólico da Marina di Cecina. Apesar de fazer um pouco de frio, os dias até agora têm sido ensolarados, com direito a luz natural entrando pela janela e pôr do sol na sacada.
Tenho acordado cedo e criei hábitos que me ajudaram a estabelecer uma nova rotina. Como forma de evitar distrações, tenho utilizado papel e caneta para anotar ideias e os pontos principais das pesquisas que volta e meia preciso fazer no Google. Isso tem me ajudado muito com a procrastinação.
Outro hábito recém-criado em Sarandë foi escrever de pé, como Hemingway. A única escrivaninha da casa fica em nosso quarto e, como costumo acordar antes de I., começo o dia trabalhando na cozinha, em uma bancada alta. Não sei qual a relação (e se há uma) desse hábito com a produtividade, mas tenho me sentido bem escrevendo dessa forma. Talvez seja a vista para o mar.
3.
Até a próxima terça-feira (07/02) você poderá se inscrever nos meus cursos com 25% de desconto.
Cursos disponíveis:
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As aulas são gravadas e o acesso é vitalício, ou seja, você poderá assisti-las no seu tempo, quando, como e onde quiser.
✍️ Notas:
Você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Escrevi em algumas oportunidades por aqui que esta newsletter sempre será gratuita. Mantenho a minha palavra, porém, abri os olhos para outra coisa: no Substack é possível manter a newsletter principal gratuita e oferecer conteúdos extras – e pagos. Vocês conhecem alguém que faz isso? Estou buscando referências para pensar em algo especial para vocês – e, claro, monetizar o meu trabalho.
Escrever um livro é muito difícil, imagino como deve estar sendo com essa quebra de rotina. Lembro que quando escrevi os meus a única coisa que não podia ser quebrada era a rotina que eu criei para eles existirem.
Sobre escrever de pé, não lembro onde ou quando, mas li que faz super bem para a produtividade e é um dos motivos que essas mesas reguláveis ficaram na moda.
Em pé o corpo - acho que era algo assim, pesquise melhor para ter uma informação mais detalhada e com mais embasamento - não fica num modo contraído como sentado e isso faz todos os músculos trabalharem para você manter a postura e equilíbrio. Deve ser isso que deixa o ato de trabalho/escrever em pé muito bom.
Farei alguns testes.
Sempre suspeitei dessa história do Hemingway escrevendo de pé... Alguns minutos, vá lá, mas vc consegue passar horas nessa ? kkkk Deu vontade de experimentar. Depois conto.
Conheço alguns perfis que vem bombando na vertente conteúdo pago do Substack. Acho que uma das pioneiras no BR foi a Gaia Passarelli. O dela (imagino que vc conheça o todo mundo tá tentando) virou até case num dos artigos da News, onde ela explica como passou um ano vivendo de newsletter.