[Passageiro #17] A Tailândia
Plano de aposentadoria, Javalis Selvagens e coincidências.
Para ler ouvindo: Maria También, por Khruangbin.
1.
A Tailândia arruinou a minha vida.
Escrevo essas linhas de frente para o Mar Mediterrâneo, um escritor à beira-mar, como sempre sonhei. Estou em um paraíso idílico na Albânia, da sacada vejo a ilha de Corfu, na Grécia, mas não é a mesma coisa. Nada é a mesma coisa depois da Tailândia.
Entre idas e vindas, estive três vezes no país – em três momentos diferentes da minha vida. O tempo somado em terras tailandesas chega a quase um ano. Chiang Mai, Bangkok, Krabi, Phuket, Phi Phi, Koh Phangan, Koh Tao, viajei de norte a sul.
Suponho que a Tailândia seja para mim o que o Vietnã foi para Anthony Bourdain. Uma espécie de refúgio, um lugar que está sempre em meus pensamentos, um lugar onde me sinto em casa, um plano de aposentadoria.
Largar tudo – dessa vez de verdade –, alugar um bangalô em Koh Phangan, viver uma vida simples, dirigir minha motoca para cima e para baixo e escrever à beira-mar.
Em uma sexta-feira como a de hoje, tirar o dia de folga, almoçar o pad thai de tofu do Pum Pui, passar a tarde na praia de Chaloklum, curtir o por do sol em Zen Beach, jantar em alguma barraquinha do mercado de rua de Thong Sala e encerrar a noite com música ao vivo no The Jam.
2.
A Tailândia aparecerá bastante em Passageiro, o livro, de modo que além de relatar experiências vividas, tenho pesquisado muito sobre o país.
Você talvez já tenha assistido A praia, clássico cult dos anos 1990 com Leonardo DiCaprio gravado na Tailândia e baseado no livro homônimo do autor britânico Alex Garland.
Embora a praia do filme seja Maya Bay, em Phi Phi, reza a lenda que Garland teria estado em Koh Phangan no início dos anos 1990 quando conheceu O Santuário, espécie de resort hippie autossustentável gerido por expatriados em uma área da ilha que na época era acessível apenas por uma trilha ou barco. Supostamente, O Santuário teria sido a inspiração para o livro.
Mergulhando na história d’O Santuário, encontrei um livro com 25 entrevistas de estrangeiros que se mudaram para Koh Phangan – incluindo os fundadores d’O Santuário e o dono do The Jam, o bar de música ao vivo da minha sexta-feira idealizada.
Uma coisa que me chamou a atenção na obra é que praticamente todas essas pessoas chegaram na ilha para ficar umas semanas e nunca mais foram embora. Existem muitos paraísos idílicos no mundo – estou olhando para um no momento –, as praias de Koh Phangan nem são as mais bonitas da Tailândia, mas há algo de magnético na ilha que parece arruinar as vidas de quem esteve lá e decidiu ir embora – no sentido de que nada mais será igual ao que foi experimentado.
É como se a ilha nos chamasse de volta cada vez que molhamos os nossos pés em uma praia que não as suas, a cada deslocamento que não seja percorrido em suas estradas a bordo de uma motoca, a cada refeição que não aquelas de uma sexta-feira no mercado de rua de Thong Sala, a cada linha escrita em outra beira-mar.
3.
O conceito de Passageiro surgiu em meio a coincidências contadas na primeira edição dessa newsletter.
Enquanto eu estava na Itália durante a Copa do Mundo de 2018 e, ironicamente, a Itália não estava na Copa do Mundo de 2018, 12 garotos tailandeses, os Javalis Selvagens, e o seu treinador de futebol, estavam presos em uma caverna em Chiang Rai, pertinho de Chiang Mai, no norte do país.
Recentemente, a Netflix lançou uma série e um documentário sobre o resgate cinematográfico dos Javalis Selvagens. Comecei a assistir a série no início da semana, dei um jeito de incluir a história no livro e anteontem, em uma coincidência trágica, li que um dos garotos, Duangpetch Promthep, o Dom, capitão dos Javalis Selvagens, foi encontrado morto na Inglaterra.
No último episódio da série da Netflix, que assisti após saber da morte de Dom, há uma homenagem para Papangkorn Lerkchaleampote, o Beam, ator que interpretou o treinador dos garotos e que foi encontrado morto em Bangkok em 23 de março de 2022, aos 25 anos, no exato dia em que desembarquei na capital tailandesa pela terceira vez.
Ainda não sei o que fazer com mais essas coincidências.
🗣 Call to action para gerar engajamento:
Qual a sua Koh Phangan?
Aquele lugar que arruinou a sua vida.
Comenta aí para gerar aquele engajamento maroto.
✍️ Notas de rodapé:
Você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Dois livros que se passam na Tailândia e eu recomendo: O caminho imperfeito, do autor português José Luís Peixoto, e Os meninos da caverna, do jornalista brasileiro Rodrigo Carvalho, que cobriu o resgate dos Javalis Selvagens e, posteriormente, os entrevistou para a obra.
Khruangbin é um trio texano que faz um som inspirado, principalmente, no funk tailandês psicodélico dos anos 1960 e 1970. Recomendo esse álbum e essa playlist. A palavra “khruangbin” em tailandês significa “avião”.
Ainda na onda de usar a nostalgia como estímulo criativo, tema da edição anterior dessa newsletter, encontrei um canal com filmes tailandeses antigos na íntegra. Não há legenda e não entendo uma palavra sequer do que é dito, mas tem servido como um belo estímulo visual.
Assinantes da newsletter tem 25% de desconto em todos os meus cursos online. Utilize o cupom NEWS25 para garantir esse mimo.
Matheus, adoramos as suas newsletters. Esse é um dos nossos “lugares”.
Você nos provoca, nos estimula, a pensar, a projetar o futuro de nossas vidas, a lembrar da nossa caminhada. Com a sua newsletter e demais conteúdos nos outros canais, nos sentimos conectados a você, aliás, a vocês, belo casal. Nos sentimos identificados com vocês.
E essa newsletter #17 nos levou a lugares no sentido de experiências. Em todo sábado de manhã, virou sagrado o programa ler seus escritos durante o café da manhã, para viajar com você. Lemos a edição #17 ao som de U2 e estávamos na memória do antológico show deles no Morumbi, São Paulo. O seu texto projetou nosso futuro para a Tailândia. Os comentários nos levaram por onde passamos, em especial, Torres (RS), Imbituba (conhece? Hehehe) e Salvador.
Torres por ser a praia mais bonita do RS, com infraestrutura boa e ares de interior durante o período de baixa temporada (melhor época).
Salvador pela exuberância da natureza, da culinária, da música, da história e do povo.
Imbituba pela beleza da natureza e pelo povo muito querido e acolhedor.
Cada experiência marcante tem sido, até hoje, o nosso lugar. E acho que assim será, pelo menos até conhecermos a Tailândia.
Desculpa pelo textão, mas você nos estimula. Por isso, obrigado!🙏🏿
Abração a vocês dois,
Rafael e Paula.
FInlândia. Foi um dos primeiros países que visitei e sempre que chega a época de Natal sinto uma saudade imensa do tempo que passei na Lapônia. Aquelas florestas, lagos e casinhas, tudo coberto de neve... Dava pra fazer um quadro pra qualquer direção que eu olhasse. Assim que possível quero voltar xD