Para ler ouvindo: Paris Summer, por Nancy Sinatra e Lee Hazlewood.
1.
[S02EP01]
A edição anterior da newsletter, a mais lida até aqui, marcou o season finale do nomadismo digital.
Hoje, uma nova temporada inicia por aqui.
2.
“Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante”. Ernest Hemingway em Paris é uma festa.
3.
Na imigração, zero perguntas. Mesmo nunca tendo nada a temer, imigrações me deixam tenso. Nesses anos todos tendo o passaporte carimbado, fui para a famosa salinha apenas duas vezes; em Tbilisi, na Geórgia, após um estranho interrogatório sobre minhas viagens anteriores (que precisei recitar em ordem), minha mochila foi submetida novamente ao raio-x e perguntas sobre as minhas reais intenções nessa antiga república soviética foram feitas; em Adis Abeba, na Etiópia, minha mochila foi revirada por um nada simpático oficial da lei que, por algum motivo, cismou com uma pinça.
4.
Não importa o lugar do mundo: sair do aeroporto sempre será um problema. Você faz o download do aplicativo local: Uber, Bolt, Grab, Lyft, Whatever, mas você sempre estará de um lado do aeroporto e o motorista de outro. Ele, o motorista, vai te falar para subir ou descer um andar, você correrá desesperado de um andar para o outro torcendo para que ele não cancele a corrida. Já no carro, perceberá da janela que todo trajeto do aeroporto ao centro da cidade em que você fará check in é igual: uma rodovia, mato dos dois lados da estrada, um ou outro armazém, moradias improvisadas um pouco antes do acesso principal.
5.
Alugar um apartamento em Paris é um jogo de sedução. Antes de mais nada, você precisa preparar um dossiê: todos os tipos de comprovante de renda, extratos bancários, cartas de recomendação e de apresentação, qualquer outro documento que comprove que você é uma boa pessoa – mas não só. Os locatários precisam ir com a sua cara.
6.
Alugamos um Airbnb em Montmartre, o bairro da Amélie Poulain, por pelo menos 1 mês até alguém ir com a nossa cara – o que, de certa forma, traz uma ansiedade a mais; já me acostumei ao bairro, ao Carrefour da esquina, à estação Guy Môquet, as baldeações, ao mendigo com chapéu de marinheiro na Champs-Élysées, ao happy hour (dos outros) no Château Pinard, à simpatia do pessoal do prédio.
7.
Dizem que os parisienses são arrogantes, mal educados, isso ou aquilo, mas tenho uma comparação boa para fazer.
Nasci em Imbituba, cidadezinha com pouco mais de 40 mil habitantes no sul de Santa Catarina. Em meados de 2022, depois de muito viajar pelo mundo, realizei um sonho de infância: aluguei, por uns meses, um apartamento no centro da cidade, com vista para a praia. Posso contar nos dedos as vezes que recebi um bom dia, um boa tarde ou um boa noite no elevador.
No número 5 da Rue d’Oslo, mesmo nas vezes em que não consigo levar adiante uma conversa por não falar francês (dizem que os parisienses sabem falar inglês, mas não falam por ranço), não faltam bonjour, bonsoir ou au revoir. E sorrisos. Muito sorrisos.
8.
Ontem foi meu aniversário. 34 anos. I. comprou ingressos para uma atração surpresa; fiquei entre Disney, estádio do PSG e City Bus – felizmente ela me ama, tem bom senso e errei os palpites.
Localizada no parque parisiense Bois de Boulogne, a Fundação Louis Vuitton é um espaço futurista desenhado pelo arquiteto Frank Gehry que, embora não conte com um acervo permanente de obras de arte, suas exposições sazonais têm feito bastante sucesso na cidade, tornando o local um dos principais museus parisienses. I. comprou ingressos para a exposição histórica com as obras colaborativas de Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol.
9.
Quem não gosta de Paris tá maluco.
10.
Em 1982, o negociante e colecionador de arte Bruno Bischofberger apresentou o jovem pintor Jean-Pierre Basquiat ao já consagrado Andy Warhol, em um encontro que resultaria em uma das parcerias mais relevantes da arte moderna.
No primeiro encontro dos dois, Warhol tirou uma fotografia dele próprio com Basquiat. Estabeleceu-se de imediato uma relação de reciprocidade.
Duas horas depois do encontro que entrou para a história, Basquiat entregou para Warhol o famoso quadro Dos Cabezas, que retrata os dois artistas. Warhol, maravilhado, insistiu que eles deveriam criar algo juntos. Basquiat, encantado, aceitou na hora. O resto é história.
11.
Embora seja um curioso nato, eu não entendo nada de arte. Nunca tive uma educação formal além daquela cheia de limitações da escola pública no interior de Santa Catarina, nunca fiz intercâmbio, mal sei diferenciar gótico de barroco. Mas sei do que eu gosto e do que eu não gosto; e das coisas que vi, sempre gostei de Basquiat; e de Warhol. I. acertou no presente.
Uma das coisas que mais me empolga nessa nova vida em Paris é a oportunidade de deixar de ser um completo ignorante em termos artísticos; Paris respira arte e cultura; Paris ainda é uma festa.
12.
Encerramos o dia bebendo um vinho de 2 euros em frente à Torre Eiffel.
De todos os clichês parisienses, esse é o que mais me agrada.
13.
“Ah, mas antigamente que era legal, agora é muito turístico”.
De fato, estava lotado de turistas.
Jessicas, Amandas e Ashleys, so crazy, I love her, com suas boinas e suas garrafas de vinho branco.
Imigrantes árabes e africanos tentando ganhar a vida vendendo isso ou aquilo, tentando levar vantagem com vinhos de 10 euros comprados por 2 no Carrefour.
Casais. Muitos casais.
Pedidos de casamento.
Adolescentes bêbados.
Viajantes solitários tirando fotos que serão enviadas para quem está longe.
Crianças correndo.
Imigrantes árabes e africanos correndo.
A polícia atrás deles.
“O aniversário é meu, mas quem ganha o presente é você!” 🎉
Bora de clichê!
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💳 Clube Passageiro e outros benefícios
O Clube Passageiro é uma comunidade de leitores(as) interessados(as) em narrativas de viagens.
Uma vez por mês são discutidos, via Zoom, livros e lugares – não necessariamente nessa ordem – que marcaram a nossa vida (tipo um Clube de Leitura, mas sem regras) em encontros com duas horas de duração. Eventualmente, autores e autoras serão convidados(as) para um bate-papo.
Em nossa comunidade fechada no Telegram você poderá trocar ideias sobre escrita, processo criativo e mercado literário com outros participantes – e comigo; perguntas sempre serão bem-vindas.
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🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento:
Estou sofrendo para aprender francês. Vocês também têm dificuldade no aprendizado de línguas? Alguma dica que vá além de assistir séries ou ouvir músicas e podcasts?
✍️ Notas de rodapé:
Eu quero voltar em breve com aquela seção da antiga newsletter em que eu indicava um álbum, um livro e um filme ou série, mas a verdade é que, ultimamente, com tanta mudança, não tenho tido tempo para consumir muita coisa.
Essa pergunta poderia ter entrado na CTA aleatória. Vocês têm o costume de escrever diários (a galerinha moderna tem chamado de journaling)? Quero registrar meus dias parisienses, só para mim, neste primeiro momento, como uma prática pessoal, mas com a esperança de que isso possa virar algo no futuro; Passageiro: os dias parisienses, quem sabe; mas antes preciso finalizar Passageiro: os dias nômades.
Não tenho consumido muita coisa e, já que estamos em uma Era em que ninguém tem paciência para consumir algo muito longo, deixo como indicação não um álbum, mas um EP: Curser’s Lament, do Cosmo Pyke. Coisa finíssima, de gente que é hipster, mas chique, na estica.
Por último, mas não menos importante, você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
2 anos de francês aqui :) meu professor recomendou esse site da TV5, que realmente é muito bom, dividido por nível e temas específicos: https://apprendre.tv5monde.com
Sabe quando você lê um texto e sente aquele quentinho no coração? Obrigado.
Há quase um ano atrás era eu quem desembarcava no sul da Bélgica, um lugar muito parecido com a França. Essa parta do país é todinha ligada aos costumes franceses, o idioma francês é oficial, onde a gastronomia, história e arte são amplamente valorizadas, utiliza o teclado AZERT (o que intensificou os meus erros gramaticais em português) e estou achando que o pessoal também não fala inglês aqui por ranço.
Acabei de ler o seu texto numa manhã típica belga de céu nublado depois de vários dias incomuns de sol forte. Eu precisava dessa dose de memória para relembrar os perrengues de alugar um apartamento, das trocas de AirBnb quase diárias e do querido interior de Santa Catarina - sou de Siderópolis, com licença!
Sabe o que ainda não consegui fazer nesses quase 365 dias de Bélgica? Dar uma escapa até Paris!
Agora com essa descrição de Paris talvez eu não tenha mais desculpas para não comprar a passagem do Flixbus!