[Passageiro #36] A balada de Tim Bernardes
No Sul o rock 'n roll passou do ponto; há quem diga que morreu.
Para ler ouvindo: A balada de Tim Bernardes, por Tim Bernardes, no caso.
1.
Em uma resenha de show ou entrevista é comum que o narrador escreva um parágrafo contando sobre as circunstâncias do encontro com o artista. O que ele (o artista) vestia, características físicas, trejeitos, algo que humanize aquela pessoa; que no final das contas é… uma pessoa.
2.
O show de Tim Bernardes no Café de la Danse estava com os ingressos esgotados há semanas. Mas, tudo bem, Paris é uma festa. Ficamos sabendo que na noite anterior Tim faria um pocket show gratuito na Balades Sonores, uma loja de discos hipster; como são as lojas de discos em 2023. De quebra, a falta de ingressos para o show no Café de la Danse abriu espaço em nossa agenda para assistirmos os curitibanos do Jovem Dionisio no New Morning; o show foi ótimo, mas essa edição da newsletter já tem a sua balada.
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A seguir, o parágrafo sobre o encontro com o artista.
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Estamos matando tempo em um bar na altura da Balades Sonores. São 18h30; o show de Tim começa às 19h00. Estivemos na loja de discos uma hora mais cedo, fizemos o reconhecimento do perímetro, conversamos com o John Cusack local, ele nos disse para voltarmos em uma hora; “esse Tim Bernardes é bem famoso no Brasil, pode ter 50 pessoas, mas pode ter 100, venham cedo para garantir um bom lugar”.
No meio da segunda cerveja I. sugere que eu desça a rua até à Balades Sonores para identificar se há alguma movimentação. De fato há. I. está certa. Ela está sempre certa. Um carro para em frente à loja de discos e um sujeito magrelo, alto, muito alto, 1,91m, conforme pesquiso mais tarde porque penso “alto, muito alto”, de sapatos pretos, calça marrom, regata branca e um lenço vermelho em volta dos cabelos compridos, recebe ajuda para retirar um estojo com um violão do porta-malas de um carro preto. É Tim Bernardes.
Meu celular está esquecido na mesa do bar, de modo que não posso fotografar o momento e enviar uma mensagem para I. dizendo: “CARA, ACABEI DE VER O TIM DESCENDO DO UBER!!! PAGA A CONTA E VEM PRA CÁ!!!”.
5.
– O Tim acabou de chegar – digo ofegante.
– E aí? – pergunta I.
– Ele é alto, muito alto.
– Mas tem muita gente lá?
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Acho que tinha umas 50 pessoas, talvez 100. O John Cusack local indica com a cabeça que o artista brasileiro já está no recinto. É difícil não notá-lo. Alto, muito alto. E o lenço vermelho em volta dos cabelos compridos. Tim Bernardes olha um ou outro disco entre uma ou outra abordagem de um ou outro fã.
– Quer ir lá falar com ele? – pergunto para I.
– Falar o quê?
Deve ser estranho ser uma pessoa famosa. Tim Bernardes não é John Cusack, passaria batido em um rolê por Koh Phangan, mas Tim Bernardes é famoso. E aquelas 50 pessoas, talvez 100, estão ali para vê-lo. Ainda que não soubéssemos de antemão que ele é alto, muito alto, sabemos que é Tim Bernardes que está ali olhando um ou outro disco. O observamos da mesma maneira que fazemos com um animal em um zoológico. Faltam uns 15 minutos para o show. Algumas dessas pessoas pedirão uma foto, um autógrafo, agradecerão por uma música que foi importante em determinado momento. Essas pessoas sabem quem é Tim Bernardes; mas Tim Bernardes não sabe nada sobre elas. Deve ser estranho. Talvez por isso ele fique ali, olhando um ou outro disco, provavelmente torcendo para que chegue o momento em que alguém anuncie o seu nome, ele pegue o seu violão e toque as suas baladas.
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8.
Entre uma e outra balada Tim Bernardes faz gracinhas em português e em inglês, diz não ter uma setlist definida e pede que o público faça os seus pedidos. I. pede que ele toque uma d’O Terno, ele toca, faz uma cover de Jorge Ben, deixa uma jovem aos prantos com Meus 26.
9.
No Sul, o rock n' roll passou do ponto
Há quem diga que morreu
Mas minha energia adolescente
Não esquece o que aprendeu
10.
Ao final do show que deveria durar apenas 30 minutos mas passa de 1 hora de duração, uma sessão de autógrafos do álbum Mil Coisas Invisíveis é organizada. Compramos nosso vinil por 30 euros e aguardamos pacientemente a nossa vez para falarmos – o quê não sabemos – com Tim Bernardes.
Antes da nossa vez, a jovem que estava aos prantos com Meus 26 pede que I. tire uma foto dela com Tim.
– Hoje é meu aniversário de 26 – ela diz para Tim, visivelmente emocionada.
– Sério? Que bom que eu toquei a música – ele responde surpreso.
Queria eu ter algo legal assim para falar para Tim Bernardes, penso enquanto me dou conta de que estou mais perto dos 36 do que dos 26.
– De onde vocês são? – Tim nos pergunta.
– Do Sul.
🧠 Para ler, assistir e ouvir:
Nômade Digital: um guia para você viver e trabalhar como e onde quiser, deste que vos escreve, está com 43% de desconto na Amazon.
The Bear, série disponível na Disney+.
<atrás/além>, álbum d’O Terno.
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Você tem alguma história com algum famoso?
✍️ Notas de rodapé:
Estou com inscrições abertas para dois cursos: 1) Escrita Criativa; 2) Escrita de Viagem.
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens – em encontros via Google Meet com duas ou mais horas de duração. Para participar dos próximos encontros e ainda ter acesso ao nosso grupo fechado no Telegram, basta assinar um dos planos pagos da newsletter (assine com 30% de desconto).
Por último, mas não menos importante, você sabia que a newsletter tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Eu nunca escutei as músicas do Tim apesar de saber quem ele é. Agora me deu vontade!
Minha história com famoso que mais gosto... já tive algumas porque me formei como atriz e trabalhei como garçonete num restaurante badalado de SP, aí quando você vê tá servindo uma entrada pro Pedro Cardoso ou levando a conta pra Vera Holtz hahaha... Mas voltando na que mais gosto: quando o Louis Garrel veio ao Brasil divulgar seu primeiro filme como diretor e eu consegui ingresso para presenciar esse momento no Reserva Cultural em SP. Uma amiga foi comigo porque disse que não perderia a minha reação por nada no mundo hahaha A minha reação foi de olhar fixo acompanhando cada movimento dele o tempo todo e tentando ao máximo manter a compostura pra não parecer uma fã enlouquecida dos Beatles. Resultado: eu quis tanto me comportar que não pedi nenhuma foto e não fiz nenhuma pergunta quando abriram essa oportunidade pra plateia. Fique lá com o olhar fixo hahaha
Hoje eu penso: que doideira, né? Como alguém que nem sabe da nossa existência deixa a gente tão desconfortável simplesmente porque a gente admira algo que essa pessoa fez? Talvez seja porque como a arte delas chega no nosso íntimo, a gente se sinta meio que exposto, né? Como se a pessoa famosa também soubesse as intimidades que dividimos com a arte dela... hahaha vai saber...
Amei o texto, ainda mais por que o Tim é um dos meus artistas favoritos e que mais acompanho haha
Eu tenho uma história de uma foto com o Belchior quando era criança. Muitas pessoas não acreditam mais eu lembro exatamente do que aconteceu no encontro.
Na minha memória ele era algum dos parentes do meu pai que eu via apenas uma vez na vida Hahaha tipo um tio distante, sabe?
Por isso não liguei os pontos até que mais velha eu descobri que tinha uma foto com um dos artistas que mais admirava e lembrava bem do momento. Essa é uma memória muito bonita.