Para ler ouvindo1: First We Take Manhattan, por Leonard Cohen.
1.
"Agora estou trabalhando numa fábrica de ferramentas - e bebendo. Mas continuei matutando. Onde estão aqueles contos e esquetes que mandei para ela em março de 1946? Ela está zangada? Isso é a vingança dela? Será que ela queimou as minhas coisas? Ela transformou as páginas em barquinhos de papel para a banheira? Ou será que Henry Miller dorme com elas embaixo de seu colchão? Não posso esperar mais. Se não receber resposta, terei minha resposta."
Trecho de uma carta escrita por Charles Bukowski para Caresse Crosby em 9 de outubro de 1946.
“Escrever pra quê?”, pergunta
na última edição da ótima .Em Escrever para não enlouquecer, coletânea de cartas escritas por Charles Bukowski entre 1945 e 1993, acompanhamos a luta do escritor para tornar-se um autor publicado e viver da sua escrita.
O velho Buk só ficaria famoso depois dos 50. Antes disso, fez de tudo um pouco para se virar. Trabalhou em uma fábrica de biscoitos para cachorro, entregou panfletos no metrô e foi carteiro por 12 anos – experiência que inspirou seu primeiro romance, Cartas na rua.
2.
Sempre que me apresento como escritor, seja no Brasil, na França ou em minhas andanças pelo mundo, invariavelmente recebo o questionamento “mas você vive disso?”.
Viver até vivo, no entanto, percebo que a pergunta parece estar sempre direcionada exclusivamente à venda de livros; resumindo o ofício do escritor ao ato de escrever e publicar; o fazer literário, como o pessoal do meio chama.
Historicamente, seja no Brasil ou lá (aqui) fora, são raros os casos de escritores que vivem apenas dos direitos autorais de suas obras; por padrão internacional, para cada livro vendido o autor recebe em média 10% do preço de capa; autores de primeira viagem recebem ainda menos que isso – no meu caso, recebo semestralmente 7% da versão física de Nômade Digital e 25% da digital (desde o seu lançamento, em julho de 2019, foram vendidos 2.252 exemplares físicos e 2.129 digitais; em uma conta rápida dá para perceber que não, não vivo exatamente disso).
3.
Em 2014, um levantamento informal feito por Santiago Nazarian na Folha de S. Paulo mostrou do que vivem alguns dos principais autores brasileiros.
"Só quatro dos 50 escritores, três deles no campo da literatura juvenil/de entretenimento, apontaram a venda de livros como principal componente de sua renda. (…) No geral, as principais fontes de renda decorrem de atividades relacionadas à escrita, como dar aulas ou palestras, realizar oficinas literárias, traduzir livros, trabalhar com jornalismo e criar roteiros de cinema e televisão.”
Santiago Nazarian na Folha de S.Paulo em 27 de dezembro de 2014.
Tudo bem que os dados acima foram levantados de maneira informal e a pesquisa tem quase 10 anos, mas pouca coisa parece ter mudado de lá para cá – é possível, inclusive, que tenha mudado para pior.
É comum no meio literário que escritores tenham outras ocupações; de jornalistas a diplomatas, passando por professores e acadêmicos ou mesmo atividades não tão convencionais, como a do geógrafo e servidor público do Incra (atualmente afastado para viver de literatura) Itamar Vieira Junior, o escritor brasileiro mais vendido da atualidade.
Dito isso, na edição 55 da newsletter Passageiro, que chega nessa sexta-feira em um formato um pouco diferente do tradicional, trago algumas ideias de atividades autônomas relacionadas à escrita.
📚 Como um escritor ganha dinheiro: livros
Ué, mas você não acabou de escrever acima que “são raros os casos de escritores que vivem apenas dos direitos autorais de suas obras”?
Sim. Porém, ainda que o objeto livro, em si, na grande maioria das vezes não traga um retorno financeiro, ele pode abrir portas para outras oportunidades de trabalho relacionadas à escrita.
E, se você der a sorte de vencer ou ser finalista de um prêmio literário, como aconteceu com Nômade Digital, terá mais visibilidade no mercado.
📖 Como um escritor ganha dinheiro: tradução
Você sabia que Haruki Murakami, um dos autores mais influentes da literatura contemporânea, traduziu do inglês para o japonês obras de outros escritores como Raymond Carver e J.D. Salinger?
Pois é. O mercado de tradução pode ser uma opção interessante para quem quer viver de literatura.
🎯 Como um escritor ganha dinheiro: marketing de conteúdo
Ouso dizer que o marketing de conteúdo está hoje para os escritores o que o jornalismo foi até um tempo atrás: uma fonte de renda honesta para quem quer trabalhar escrevendo; não à toa muitos jornalistas têm migrado para essa área.
A primeira vez que alguém pagou por um texto meu foi justamente em um frila de marketing de conteúdo (um post para um blog de empresa).
Posteriormente, foram esses frilas que permitiram que eu me demitisse de um emprego que detestava para, enfim, viver da escrita.
Entre 2015 e 2016 conciliei a CLT (trabalhando como assistente de marketing em uma faculdade) com os frilas até, finalmente, me demitir e cair na estrada.
De 2017 a 2018, o marketing de conteúdo seria a minha principal fonte de renda – até eu descobrir que sim, eu amava escrever, mas não para os outros (mas isso é papo pra outra hora).
💻 Como um escritor ganha dinheiro: blog
Não, os blogs não morreram.
O meu existe desde 2013 e faz parte de uma estratégia própria de marketing de conteúdo para vender, entre outras coisas, meus cursos e meu livro.
Por opção, já que meu foco está em vender as minhas próprias coisas, meu blog não tem anúncios de terceiros, mas você pode tentar a sorte com o Google AdSense.
💌 Como um escritor ganha dinheiro: newsletter
Novo queridinho dos escritores, o Substack é uma alternativa bem interessante para quem quer ganhar dinheiro com a escrita.
Para atrair novos assinantes e ter uma renda recorrente, você pode oferecer benefícios exclusivos.
No meu caso, além de ter criado uma comunidade no Telegram, ofereço workshops mensais.
🎓 Como um escritor ganha dinheiro: cursos
Assim como boa parte dos escritores brasileiros, minha maior fonte de renda (desde que parei com os frilas) são os meus cursos – todos online por uma questão logística; passei os últimos seis anos viajando o mundo e atualmente moro em Paris.
Aliás, estou oferecendo 50% de desconto em todos os meus cursos durante o mês de novembro.
Você não leu errado.
Utilize o cupom BN2023 (letras maiúsculas) ao se inscrever em qualquer um dos cursos para garantir o seu desconto.
💻 Cursos disponíveis
(de R$ 597 por apenas R$ 298,50; em até 12x)
(de R$ 397 por apenas R$ 198,50; em até 12x)
(de R$ 997 por apenas R$ 498,50; em até 12x)
💼 Marketing Pessoal e Produção de Conteúdo no LinkedIn
(de R$ 897 por apenas R$ 448,50; em até 12x)
💰 Como um escritor ganha dinheiro: treinamentos in company
Algo não tão explorado pelos escritores, mas que pode render um bom dinheiro, são os treinamentos in company.
Sabe aqueles cursos que você já oferece para pessoas físicas? Ofereça-os também para pessoas jurídicas.
Grandes empresas têm um orçamento anual separado para investir no desenvolvimento dos seus colaboradores. Aproveite para ficar com uma fatia do bolo.
🎤 Como um escritor ganha dinheiro: palestras
Seu livro fez algum barulho? Transforme-o em palestra.
Além do cachê, as palestras são uma excelente oportunidade para você vender mais exemplares da sua obra e criar uma conexão com a sua audiência.
🤳 Como um escritor ganha dinheiro: publis
Eu entendo o ranço que muitos escritores sentem das redes sociais – eu mesmo sequer tenho Tik Tok; talvez devesse ter –, mas, por experiência própria, vou falar para vocês que os benefícios de ser ativo em plataformas como LinkedIn e Instagram vão além de divulgar o seu trabalho e vender livros ou cursos: de 2020 para cá, quando Nômade Digital foi finalista do Prêmio Jabuti, o marketing de influência financiou muitas das horas que dediquei à escrita do meu próximo livro.
Nunca fiz dancinha ou vídeos de humor (que eu adoro assistir, não me entendam mal) ou qualquer outro conteúdo que não estivesse de acordo com os meus próprios termos.
Talvez seja apenas uma questão de adaptar-se; e aceitar que o mundo mudou.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Como conseguir clientes no LinkedIn? Leia no… LinkedIn.
10 livros para quem quer alavancar a carreira ainda em 2023.
A viagem do casal Pati e Faraó pela África e Oriente Médio vai virar livro. A dupla do blog Sem Chaves lançou uma campanha de financiamento coletivo para tirar o projeto do papel. Eu já garanti o meu exemplar.
Temos leitores de Gabriel García Márquez por aqui? Em Agosto nos Vemos, seu romance póstumo, chegará aos leitores no ano que vem.
Eu nem curto muito surf, mas a série Make or Break da Apple TV sobre o circuito mundial da categoria é bem legal.
“Constância é que nem 🍑 ~ uma reflexão sobre criar em redes sociais”. Gosto desse vídeo do
.It’s Suntory time. Uma playlist melancolicazinha para o final do expediente.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
O Prêmio Jabuti selecionou ontem (09/11), entre os indicados a melhor ilustração de 2023, uma obra feita por inteligência artificial.
Um dos jurados afirmou que não teria incluído o livro na lista se soubesse dessa informação.
O que você pensa a respeito?
Que honra ser citado na sua newsletter! Nem chego a almejar um prêmio --é claro que ficaria muito feliz se fosse laureado--, mas já ficarei feliz ao preencher, nos formulários da vida, que sou escritor.
Oi Matheus. Tentei me cadastrar para "revender" seus cursos, mas não consegui... me perdi no caminho tortuoso da internet...
Quanto à IA, bem polêmicas à parte, não sei como eram os outros concorrentes, mas achei a capa do Frankenstein horrorosa. Bem feito que foi feita por IA, assim os jurados aprendem a escolher melhor...rsrsrs