[Passageiro #102] Em busca de iluminação (e respostas) na Tailândia; de novo
Ainda é possível viver de literatura?; ainda é possível ganhar dinheiro no YouTube?; ainda é possível... sonhar?
🎧 Para ler ouvindo1: “The Adventure”, por Angels & Airwaves.

✍️ Por Matheus de Souza
📍 Bangkok, Tailândia
Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de “Nômade Digital”, livro finalista do Prêmio Jabuti.
1.
Em julho do ano passado comecei a escrever um romance. Como parte dos benefícios dos planos pagos de Passageiro, decidi compartilhar os bastidores do processo de escrita do livro em uma edição extra e mensal da newsletter. Funcionou até novembro, não por bloqueio criativo ou coisa do tipo, as ideias estão aqui, sei onde quero chegar com a história, o que ocorre é que, ao tentar abraçar o mundo, vi o meu próprio mundo ruir.
Já li por aí que “é melhor ser triste em Paris”, pois bem, posso afirmar o contrário: é pior. Sou um imigrante, não falo o idioma local2, ganho em real e gasto em euro3, amigos e família estão longe, serei menos triste por conta de uma torre?
2.
Não entrarei em detalhes porque isso não é uma coluna do Léo Dias, mas o que posso e quero dizer é que eu precisava de novos ares. Estou em Bangkok. A Tailândia tornou-se, de certa forma, um lugar afetivo que recorro quando quero fugir dos meus problemas – e é exatamente isso que estou fazendo: fugindo.
Fugindo para colocar a cabeça no lugar; fugindo para escrever; fugindo em busca de iluminação; fugindo em busca de respostas.
Estou na Tailândia pela quinta vez – venho ao país desde 2017; entre idas e vindas já passei mais de um ano nessas terras – e aqui, de certa forma, me sinto em casa; é melhor ser triste na Tailândia.
Dito isso, retomei o romance, de modo que, de certa forma, mudei-me temporariamente para dentro do romance – a história se passa entre Bangkok e a fictícia Koh Jai – os curiosos, desde que paguem4 por isso, podem conferir as edições anteriores de “Há algo de podre no reino da Tailândia” neste link; quinta-feira sai um texto inédito escrito diretamente de Bangkok.
3.
É a primeira vez que viajo sozinho desde 2020 – coincidência ou não, a última aventura solo foi justamente para a Tailândia. Tem sido estranho, das viagens mais estranhas que já fiz, sinto falta de I., sinto falta da minha segunda tela que ficou em Paris, mas de Paris, em si, não sinto falta; pelo contrário: basta uma caminhada qualquer por qualquer rua em Bangkok, basta comer qualquer comida de rua em qualquer rua em Bangkok, basta todo e qualquer sorriso e qualquer gentileza por parte dos tailandeses, algo raríssimo entre os parisienses, que me pego pensando: se gosto tanto daqui, se sou tão feliz nessa terra, por que não?
4.
O romance. Estou aqui para escrever o romance. É uma espécie de residência literária – mas bancada com recursos próprios. Algumas coisas me empolgam, permitem-me sonhar: a história é boa, a Tailândia está em alta por conta da série “White Lotus”, o Brasil acaba de ganhar um Oscar, as coisas estão se encaixando; parece-me possível; parece-me, megalomaniacamente falando, um bilhete premiado; penso longe; parece-me possível viver de literatura; ainda que Números & Tendências digam o contrário, ainda que escritores e escritoras lutem dia após dia para pagar suas contas e dívidas através de outras ocupações que não a escrita – cursos, mentorias, palestras e o que mais aparecer –, acho que tenho um trunfo: aprendi a jogar o jogo; e aprendi a jogar bem; literatura não é mais “apenas”5 escrever livros.
5.
Confio no que escrevo, confio nas histórias que conto; faço isso na internet há tempo demais (desde 2013!), de modo que perdi toda e qualquer insegurança. Perto dos 36, chegando nos 40, sinto que não tenho mais nada a perder; e acredito que aqui vale um conselho para os mais jovens: demora, as coisas demoram, mas você tem que seguir em frente, tem que seguir escrevendo, tem que seguir criando, tem que seguir aprendendo as regras do jogo (que mudam o tempo todo), tem que…, porque é só assim, seguindo, que as coisas acontecem; que o jogo vira. E ele vira. Uma hora vira. Vira para quem é bom no que faz e não desiste, vira para quem não tem medinho. Dois, três, dez, doze anos; uma hora vira. E, quando virar, não faça o que fiz: não se acomode. Faz seis anos que meu primeiro e único livro foi publicado – não publiquei nada desde então, mesmo tendo sido finalista do Prêmio Jabuti, o que me colocou com a faca e o queijo nas mãos, mas me acomodei.
Semana passada recebi o relatório das vendas de “Nômade Digital” no segundo semestre de 2024 e, bicho, vendeu bem demais – (você viu algum influenciador falando do livro? Viu algum tipo de publicidade que passou batida por aqui? Conta nos comentários? Eu genuinamente ainda estou tentando entender esses números.)
Como disse anteriormente, o livro foi lançado em 2019. Nos anos mais recentes, vendeu pouco – o que é normal. E aí, do nada, no apagar das luzes de 2024, vende incríveis 1.327 exemplares (sendo 1.096 na versão física). Eu realmente não sei o que houve, mas bicho, isso – somado com outras paradas – me energizou; ou eu vivo de literatura ou vou limpar banheiros (e, gente, pelamor, absolutamente todo o respeito do mundo àqueles e àquelas nessa digna profissão; foi uma referência ao maravilhoso “Perfect Days”).
6.
E aí tem o YouTube. Na 100ª edição desta Passageiro contei que cheguei longe demais para não continuar arriscando e, bem, anunciei a PassageiroTV. Vai rolar. Tá rolando. Demorei mais do que queria na concepção do primeiro vídeo – especificamente falando em termos de formato –, mas acho que tô satisfeito com aquilo vou entregar para vocês em breve. Tá ficando massa, tá ficando bonito, tá ficando com a minha cara e, pô, tô sonhando em dólar.
Estudando sobre o YouTube aprendi que a plataforma não é mais aquilo que costumava ser, que não paga tanto quanto costumava pagar, mas bicho, a literatura também não; faz parte do jogo!; o segredo é ser diferente; é fazer algo diferente; é ser a pessoa que será copiada – e não o contrário. O segredo é continuar sonhando e fazendo; porque uma hora vira. Ah, se vira.
💰 Mentoria Monetize
Um programa individual e personalizado com 6 meses de duração para te ajudar a monetizar o seu conteúdo/conhecimento; e que em 2024 ajudou mais de 20 criadores dos mais diversos nichos.
🏴☠️ Faça Você Mesmo
Um curso online e gravado com a mesma metodologia que ensino na Mentoria Monetize; sem o acompanhamento e os encontros individuais ao vivo, mas por um valor mais acessível.
🎓 Outros cursos com inscrições abertas
✍️ Escrita Criativa
Aulas gravadas; acesso vitalício. Informações aqui.
🎒 Escrita de Viagem
Aulas gravadas; acesso vitalício. Informações aqui.
Você sabia que a newsletter Passageiro tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
Dispenso dicas e conselhos; tenho meus motivos e circunstâncias da vida; tenho meus corres; obrigado.
Também não pedi uma dica ou um conselho aqui; nessa altura do campeonato acho que você já entendeu isso, né? Mas sempre tem um(a), sempre tem…
Caso você curta o meu trabalho, considere assinar um dos planos pagos. Além dos benefícios utilitários, saiba que me pagando para tal, você contribui para que eu continue contando as minhas histórias por aqui – e com um sorriso no rosto; é melhor ser triste na Tailândia, mas bom mesmo é ser feliz na Tailândia.
Com aspas porque… você já escreveu um livro? Que trabalhão da por**!
Sou do time que também acha super possível. Vai rolar sim, confia que vai
Tem que ser possível tudo isso, Matheus! Eu, que estou no jogo corporativo há 15 anos, acredito que é possível bem agora, no 45 do segundo tempo. Como realmente, de fato, sem dúvida, com toda a certeza do mundo, cansei de me matar pra fazer o sonho dos outros acontecer, tenho que acreditar que é possível, ainda que os números digam o contrário. Acredito na literatura, na escrita, nas narrativas, nas palavras, e tem muito ser humano por aí que também acredita. Torcendo por você!