[Passageiro #101] Sobre monetizar hobbies
Achei uma parada legal para fazer no tempo livre e não quero estragar isso.
🎧 Para ler ouvindo1: Écoute-moi camarade, por Mazouni.
✍️ Por Matheus de Souza
Escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de “Nômade Digital”, livro finalista do Prêmio Jabuti.
1.
A escrita começou como um hobby; um exercício criativo; uma despressurização da rotina do dia a dia. Aí virou trabalho. Primeiro para os outros; depois para mim. Escrever para os outros (como redator e ghost writer freelancer) era um saco, mas pagava os boletos. Escrever para mim é um prazer, mas não paga os boletos; não vendendo livros2 ou assinaturas de newsletter, pelo menos.
Nesse mundo louco em que vivemos onde cultura e literatura são coisas do passado3, minha escrita pessoal pode ser enquadrada como “conteúdo”, de modo que os boletos pagos por ela são provenientes do comércio de serviços e produtos derivados – os famosos infoprodutos; cursos, mentorias, etc; contei mais sobre isso neste texto.
2.
Tentei a pintura. Foi no primeiro ano da pandemia. Chiang Mai, Tailândia, 2020. Antes do lockdown – por lá, de fato, existiu um lockdown –, comprei uns tubos de tintas, uns pinceis e duas telas. Numa segunda-feira qualquer (pode ter sido numa terça, numa quarta, quem sabe até numa quinta; esse conceito de “calendário” não fez muito sentido em 2020), abri uma garrafa de rum tailandês de procedência duvidosa, coloquei uma playlist de música clássica na JBL emprestada de um amigo e, bem, pintei o que podemos chamar de arte abstrata. Nunca mais toquei num pincel.
3.
Comprei uma câmera. Dia desses. Uma Fujifilm X-T50. Não entendo nada de câmeras, lentes ou mesmo fotografia. Comprei uma câmera por conta da PassageiroTV (falaremos dela adiante), mas descobri nela, a câmera, um novo hobby.
Ontem saí aqui por Paris, Pigalle, onde moro, e Montmartre, onde a Amélie Poulain mora, com a câmera a tiracolo e o objetivo de gravar uns takes da cidade para a PassageiroTV – em uma tentativa/limitação autoimposta de fazer um vlog em Paris sem que a Torre Eiffel apareça –, mas entre um vídeo e outro, me peguei fotografando por puro e simples… prazer?
E em preto e branco – não sei o motivo.
4.
5.
Uma das locações do primeiro vlog da PassageiroTV foi o Père Lachaise, famoso cemitério onde estão enterrados nomes como Jim Morrison (The Doors), Édith Piaf, Oscar Wilde e Allan Kardec. A ideia era brincar com os significados da palavra “Passageiro”.
Acho que o preto e branco surgiu daí.
6.
Passageiro
substantivo masculino
Pessoa que usa um meio de transporte; quem é transportado de um lugar para outro por um veículo (público ou particular).
adjetivo
Que passa rapidamente, de curta duração; breve, momentâneo.
7.
Sou escritor, mas ao mesmo tempo péssimo com a nossa gramática. Vivo errando crases, não sei o que é uma oração subordinada4, vez ou outra cometo uma gafe quando publico um texto.
Tem gente que não gosta de ser corrigida, isso mexe com o ego, né?, mas eu gosto, é assim que corrijo meus vícios de linguagem; foi assim, por exemplo, que parei de usar “há X anos atrás” após a correção de uma querida leitora – “há” já está no passado, não precisa do “atrás”. Isso aconteceu há uns anos.
Também não sou exatamente um intelectual, não sou culto, nunca li Nietzsche e do Byung-Chul Han só conheço “Sociedade do cansaço” – cuja leitura me cansou –, na maioria das vezes sequer sei o que estou fazendo, mas descobri que tem uma parada que sou bom: em ser eu mesmo.
E ninguém melhor que eu pra fazer as coisas do meu jeito; só eu posso contar as minhas histórias porque só eu vivo as minhas histórias.
🤯
Foi por isso que comecei a PassageiroTV.
O primeiro vlog era pra ter saído semana passada, depois era pra ter saído ontem, talvez saia quinta-feira, mas só aceitei que não darei uma data exata: sairá em breve; e tô tranquilo com isso.
Tô aprendendo a mexer na câmera e no DaVinci Resolve, aprendendo a editar, aprendendo a contar uma história, a minha história, do meu jeito, em outro formato.
E aí tem a fotografia.
A PassageiroTV tem me dado uma ou outra dor de cabeça porque, não vou mentir pra vocês, tenho objetivos comerciais por trás; quero fazer a parada crescer, quero ganhar em dólar, quero ter mais uma plataforma para vender as minhas paradas; e eu nem sou um cara que precisa de muito, quero que sobre algum no fim do mês para viajar, quero ter minhas coisinhas, quem sabe em uns 10 anos comprar uma casa, mas rico, rico não penso ser, só quero seguir tendo liberdade pra fazer as minhas paradas numa boa, sem chefe na cola, mas vou dizer pra vocês que, mesmo já sentindo essa liberdade há um tempo, não lembro a última vez em que senti o prazer que senti ao fotografar por fotografar – sem a pressão dos algoritmos, sem a pressão dos boletos, sem a pressão de fazer um bom trabalho; porque não é um trabalho.
É só um hobby.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Contei em , minha outra newsletter, como faturei mais de R$ 1 milhão com infoprodutos de 2017 para cá – não é clickbait, PORÉM, é um texto sobre Números & Narrativas.
Você precisa mesmo sair da sua zona de conforto? Belo questionamento da .
Nem tudo é um sinal (você tá perdendo tempo demais nessa brincadeira). A tem razão.
“White Lotus” tá de volta na HBO e, bom, a nova temporada se passa na Tailândia. Gostei bastante do primeiro episódio. Lembrando que estou escrevendo um romance que se passa no país.
Sobre o assunto hobby, fotografia e equipamentos, vale assistir esse vídeo do Arthur Miller sobre ter comprado a câmera mais barata no site da Amazon – e o que saiu daí.
Ainda sobre “White Lotus”, tô bem empolgado para ouvir a trilha sonora completa dessa temporada. Além de Khruangbin, uma das minhas bandas favoritas, que sempre cito por aqui, rolou The Paradise Bangkok Molam International Band no primeiro episódio. “Planet Lam”, álbum mais recente da banda, é excelente.
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Você tem algum hobby não monetizado? Conta aí!
Você sabia que a newsletter Passageiro tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
E vendi pra caramba! Até 30 de junho, data do último relatório de vendas recebido por este escriba, “Nômade Digital” havia vendido exatas 4.753 cópias (2.413 exemplares físicos e 2.340 e-books).
Ler “A civilização do espetáculo”, livro do Nobel peruano Mario Vargas Llosa; apesar da sua recente e bizarra guinada à extrema-direita.
Segundo o Google, “as orações subordinadas são aquelas que exercem função sintática sobre outras”; beleza, mas que diabos é uma FUNÇÃO SINTÁTICA???
"Onde a Amélie Poulain mora" me pegou. Quando fui a Paris, visitei vários lugares do filme. Que nostalgia...
Ok, hobbies. Engraçado que me enquadro muito no mesmo contexto, embora meus pincéis e meia dúzia de tintas sejam usados de vez em quando.
Comprei uma câmera analógica. Sempre amei fotografia, até que comecei a trabalhar com isso, já há muitos anos (sem o "atrás"). Perdi a vontade, de um hobby não pode esperar nada em troca, perde-se a magia. Por isso a câmera analógica. Numa tentativa de recuperar o amor por fotografia, mas também por usar algo que não seja digital. Afinal não é o mesmo sentimento fotografar com o celular.
Enfim. Me identifiquei muuuuito com o texto. Gostei :) quem sabe dê um check no livro.
Que fotos incríveis, parabéns! Que saudade de caminhar à toa pelas ruas de uma cidade “nova” com uma câmera na mão, sem celular, e com a curiosidade aguçada. Eu tinha uma Canon com tela giratória, e por isso registrava uns ângulos diferentes. Nostalgia pura! Aproveite o novo hobby pelo puro prazer de se manter no presente!