[Passageiro #81] A primeira vez que um monster truck deu um salto mortal para frente
Difícil achar um subtítulo para uma chamada dessa.
A newsletter Passageiro é gratuita, porém, ao assinar o Clube Passageiro você tem direito a benefícios exclusivos – incluindo workshops mensais e uma comunidade no Telegram para fazer networking e trocar ideia com outros produtores de conteúdo.
Na próxima quinta-feira (27/06), 18h do Brasil, rola um workshop sobre “A arte de viajar sem pagar hospedagem (feat. Casei e Mochilei)” e estou oferecendo 50% de desconto no plano anual.
🎧 Para ler ouvindo1: The World’s First Ever Monster Truck Front Flip, por Arctic Monkeys.
1.
Estou em um café parisiense na Rue des Martyrs. Sento com a ideia de escrever sobre a experiência de escrever em um café parisiense; escrever sobre escrever: um dos clichês mais clássicos da literatura. Aquela coisa de observar as pessoas em volta, descrever detalhes daquilo que os olhos veem – o carrossel da Place Lino-Ventura, uma mulher que mostra para outra uma radiografia do que parece ser um braço quebrado com um pino (assim que me mudei para Paris tranquei a porta do apartamento com a chave dentro e o chaveiro usou uma radiografia para abrir a fechadura; ele cobrou 150 euros), um senhorzinho carregando uma sacola de pano com os dizeres “I love Penang”, os atendentes asiáticos do café pariense que me lembram os cafés tailandeses hipsters de Chiang Mai, os outros MacBooks perfilados no balcão com vista para o carrossel da Place Lino-Ventura (possivelmente mais pessoas escrevendo sobre escrever), um rapaz com um celular que dobra (eu nunca tinha visto um desses pessoalmente; além do celular descolado, ele também tem um pequeno ventilador portátil apontado para si; o verão começou anteontem e está bem quente) –, mas não, decido que não vou escrever sobre nada disso, decido que vou me esforçar um pouco mais para encontrar um tema interessante para a edição de hoje da newsletter.
2.
Você que me lê em Passageiro talvez não saiba, mas tenho uma newsletter teoricamente bem-sucedida no LinkedIn, a Nômade Digital, em que o número de assinantes está chegando na casa dos 70 mil – “teoricamente bem-sucedida” porque, no caso do LinkedIn, a newsletter é mais deles que minha, uma vez que a rede profissional que pertence a Microsoft não libera os e-mails dos assinantes, de modo que se o Bill Gates (ele ainda está na Microsoft?) decide matar o LinkedIn – ou vendê-lo para o Elon Musk; o efeito seria o mesmo –, eu perderia quase 70 mil leitores – diferente do Substack que, caso a plataforma venha a óbito amanhã, tenho a lista de e-mails e posso levar os quase 9 mil leitores de Passageiro para outro lugar.
Minha linha editorial no LinkedIn é dar diquinhas. Comecei falando de nomadismo digital e trabalho remoto, mas desde que me mudei para Paris e a newsletter Passageiro tornou-se também um negócio, passei a falar sobre economia criativa. Nômade Digital está em sua 99ª edição e, ontem, em tese, eu deveria ter publicado a 100ª, mas pensei: não, hoje não quero dar diquinha.
3.
Uma diquinha que qualquer especialista em marketing de conteúdo e SEO provavelmente me daria com base neste texto que escrevo no café parisiense da Rue des Martyrs é evite escrever grandes blocos de texto; parágrafos longos atrapalham a leitura; o ideal, para um melhor escaneamento dos olhos, são parágrafos em que as frases tenham entre 3 e 5 linhas.
4.
Falando em LinkedIn, vi hoje por lá (via Bia Granja):
“A lógica comercial das redes transformou autenticidade em performance. Com um mercado cada vez mais saturado de pessoas tentando virar influencers, o burnout virou a regra, não a exceção.
(…)
A criatividade está sob ameaça. Algoritmos estão impondo uma pasteurização cultural e mesmice sem tamanho, a Inteligência Artificial vai (ou não?) roubar nosso trabalho e as marcas estão só esperando a coisa funcionar direito pra substituir influencers humanos por AI-nfluencers.”
5.
Além de jogar futebol com as mãos, os estadunidenses gostam de umas coisas estranhas. Monster trucks, umas camionetes com rodas de trator, são uma delas. Durante o Monster Jam World Finals de 2017 em Las Vegas, o principal evento do tipo em que pilotos desses carros gigantes ficam saltando de um lado para o outro em uma arena com dezenas de milhares de espectadores, Lee O’Donnell, conhecido como Mad Scientist, fez algo histórico a bordo de seu monster truck: um front flip (um salto mortal para frente). Nunca, nunca na história da humanidade um ser humano pilotando um monster truck havia realizado tal proeza.
Felizmente, temos um vídeo disso (começa em 1:54).
6.
Há pouco mais de um ano, na edição de número 28 da newsletter Passageiro, escrevi um texto com a pergunta: De onde vêm as ideias? – nele falo sobre as referências supostamente aleatórias de Alex Turner, vocalista dos Arctic Monkeys, durante o processo criativo do álbum Tranquility Base Hotel & Casino.
Desisto da ideia de escrever sobre escrever quando The World’s First Ever Monster Truck Front Flip, faixa 7 de TBH&C, começa a tocar aleatoriamente no café parisiense na Rue des Martyrs. Lembro de uma entrevista antiga em que Alex Turner responde de onde tirou o título inusitado para a canção:
“Eu vi uma notícia sobre isso e tive que clicar para assistir o vídeo. Depois não resisti a tentação de escrever uma música com esse título. Acho que o que quero dizer com isso é que nós estamos vivendo em um mundo onde as pessoas estão fazendo saltos mortais para frente em monster trucks. Ou seja, tudo é possível”.
👨🎓 Cursos com inscrições abertas
✍️ Escrita Criativa
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🧳 Clube Passageiro
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens – em encontros via Google Meet com duas ou mais horas de duração.
No próximo encontro do Clube Passageiro (27/06, às 18h do Brasil), recebo o casal Padula & Cléo, do projeto Casei e Mochilei, para trocarmos uma ideia sobre house & pet sitting – eles moram na Europa desde 2021 sem pagar aluguel e já deram entrevista até para o The Sun sobre isso.
Se você se interessa pelo assunto e também quer viajar pelo mundo sem pagar hospedagem, além do workshop do Clube Passageiro também vale a pena acompanhar a newsletter do Casei e Mochilei.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Estou devorando Romance russo, nova edição em português de um livro antigo de Emmanuel Carrère – o mesmo autor do hypado – com razão – Ioga.
Essa história do monster truck me lembrou a primeira vez em que o Tony Hawk acertou um 900º.
No meio de tanta falta de criatividade e pasteurização, felizmente temos o – o fez o seu primeiro vlog e, para variar, ficou incrível.
Essa nova temporada de Casamento às Cegas: Brasil tá boa, hein? hahaha. Ansioso desde já pelos próximos episódios.
Para quem quer ouvir uma coisinha diferente: La pantoufle, álbum do Forever Pavot – uma pegada trilha sonora de filme francês dos anos 1970.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? A minha foi hoje. Mesmo morando há pouco mais de um ano em Paris, cidade que tem todo esse apelo literário, eu nunca havia escrito um texto em um de seus famosos cafés.
Oi Matheus, domingo passado meu prof de boxe me colocou frente a frente com um outro aluno dele. Foi a primeira vez q tomei um soco na têmpora, de um cara, rsrs na hora doeu mas continuamos o treino e deu tudo certo. No outro dia ele elogiou minha coragem pro professor ahahahahha