[Passageiro #86] Deus, por que está me impedindo de escrever?
Procrastinação, Mario Levrero e BoJack Horseman; ah, e um bate-papo com Carol Bensimon no Clube Passageiro.
🗓️ Bate-papo com Carol Bensimon no Clube Passageiro
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens.
Para participar dos bate-papos mensais e ter acesso ao nosso grupo fechado no Telegram, basta assinar um dos planos pagos da newsletter – assinantes pagos da newsletter Passageiro também têm acesso a uma edição extra e mensal com os bastidores do processo de escrita do meu primeiro romance.
Amanhã (05/09), 18h do Brasil, conduzo um bate-papo com a premiada escritora sobre as engrenagens do romance – ela está escrevendo o sexto; eu o primeiro. Carol é autora, entre outros, dos romances Diorama e O clube dos jardineiros da fumaça (vencedor do Prêmio Jabuti em 2018), além da newsletter .
🎧 Para ler ouvindo: Stars (Live at Montreux), por Nina Simone.
1.
“Não sei se o que tenho pode ser chamado de bloqueio criativo. Não. O que tenho é outra coisa. As ideias estão ali, elas surgem no banho, quando flano pelas ruas de São Paulo, quando leio Descobri que estava morto. O que tenho é outra coisa. Minha produção literária está em estado catatônico por um excesso de pensamentos e referências. Não sei se há uma palavra para isso. É algo que vai além da procrastinação. E tem também esse prazo para que o livro seja publicado em 2019: 31 de dezembro de 2018. Três meses se passaram desde a assinatura do contrato; mas ainda tenho outros três. É um prazo longo demais para uma pessoa que tem isso que eu tenho.”
O trecho acima, em que conto estar empacado com Nômade Digital, estará em Passageiro, o livro que estou escrevendo desde outubro de 2022 quando esta newsletter foi lançada com o objetivo de compartilhar o processo criativo da obra – ideia que abortei lá pelo terceiro mês, mas que de certa forma voltou renovada com Há algo de podre no reino da Tailândia, meu primeiro romance; por que procrastinar a escrita de um livro se posso procrastinar a escrita de dois?
2.
Estou lendo O romance luminoso de Mario Levrero; um romance sobre o desejo de escrever um romance. Em 2000, Levrero ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim para terminar de escrever um livro que havia começado em 1984 e deixado inacabado. Entre agosto de 2000 e junho de 2021, tempo de duração da bolsa, o uruguaio manteve um diário que deveria servir como um exercício para retomar o hábito da escrita, mas que acabou se tornando o próprio livro.
O diário é por vezes repetitivo e o trivial, assim como em Karl Ove Knausgård, é trabalhado nos mínimos detalhes, talvez uma tentativa de desglamourizar a figura do escritor, esse ser que, por não ter um chefe na cola para prestar contas, precisa ser disciplinado e organizado, de modo que trocar um ar condicionado e limpar a cozinha tornam-se parte da obra; e aí me lembro de BoJack Horseman.
3.
Em Downer Ending, 11º episódio da 1ª temporada de BoJack Horseman, série da Netflix, o personagem principal dispensa a ghost writer que estava escrevendo um livro contando a sua história e decide ele mesmo escrever a autobiografia; em cinco dias.
A procrastinação de BoJack começa com a escolha da fonte ideal.
Em Nômade Digital, após muitos testes, optei pela Bembo Std. Em Passageiro, tenho usado a boa e velha Times New Roman. Há algo de podre… está sendo escrito com a Palatino, mas ainda não estou seguro de que é a melhor escolha.
4.
“Eu vou acabar os dois livros até dezembro de 2024!!!”, diz o post it colado na segunda tela da minha mesa de trabalho.
Diferente de Nômade Digital, não tenho um contrato assinado com uma editora. Achei que funcionaria melhor assim, uma vez que algumas coisas que estão no livro foram meio que escritas às pressas – o que, olhando para trás, não me parece de todo ruim.
Duvido muito que eu consiga terminar as duas obras até o fim do ano – Passageiro é o mais adiantado e 31 de dezembro de 2024 me parece um prazo ok; Há algo de podre… tem apenas algumas páginas escritas e muita coisa pipocando na minha cabeça, de modo que provavelmente precisarei de mais tempo –, mas o post it é uma forma de automotivação. Não ter um chefe na cola ou um prazo estabelecido por contrato é uma benção e uma maldição.
5.
Dia desses precisei enviar o comprovante do meu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (o famoso CNPJ) para uma instituição de ensino superior onde serei professor de um curso rápido sobre newsletter (!) – em breve vocês terão mais informações sobre isso.
Olhando meus dados cadastrais, me chamou a atenção a data de abertura da Matheus de Souza LTDA: 16/08/2017. Faz pouco mais de sete anos que trabalho por conta própria, que não tenho chefe, que minha procrastinação não é remunerada.
6.
Em seu romance sobre o desejo de escrever um romance, Levrero faz várias citações sobre seu vício em jogos de computador. Em Passageiro, conto do meu na época em que estava escrevendo Nômade Digital:
“Em uma atitude drástica, deleto o Football Manager do meu computador. A plataforma Steam, onde comprei o jogo, contabiliza o número de horas jogadas; 125, o equivalente a 5,2 dias. Em condições normais de trabalho, sem distrações como a Copa do Mundo ou um simulador de futebol, costumo escrever cerca de 4 horas por dia. Dividindo essas 125 horas pelas 4 em que eu deveria estar trabalhando no livro, chegamos ao resultado de 31,25 sessões de escrita, o que significa que, dos dois meses da minha residência literária financiada com recursos próprios em Arezzo, um deles foi dedicado a uma realidade virtual em que sou treinador da Roma.”
7.
Mais um trecho de Passageiro:
“Marcelo Amaral, o generoso editor de Nômade Digital, me cobra algum (qualquer) progresso. Não dou notícias desde o fim da Copa do Mundo há pouco mais de três meses.
– Oi, Matheus, como vai? Estou lhe escrevendo porque desde nosso último contato, em 19 de julho, não recebi mais notícias suas e nem o arquivo que ficou de enviar. Eu sei que cada escritor tem um ritmo, mas preciso de uma posição sua para fechar a minha grade de publicações para 2019. Quando puder me dê um retorno, ok?”
8.
“Cada obra de arte é uma paisagem cultural do artista, feita de suas memórias, dos momentos que passou trabalhando, de suas esperanças, energias e neuroses, da época em que vive e de suas ambições”, escreve Jerry Saltz em Como ser artista. Achei isso bonito. Tem a ver com o que estou tentando construir em Passageiro; ambos, livro e newsletter.
9.
Amanhã (05/09) conversarei com a Carol Bensimon no 16º encontro do Clube Passageiro e certamente uma das minhas perguntas será sobre como ela lida com a procrastinação. Carol já publicou cinco romances e está escrevendo o sexto.
10.
A edição de hoje da newsletter deveria ter saído ontem, mas eu procrastinei.
11.
🚨 Últimas vagas: Mentoria Monetize
Estou com oito vagas abertas (cinco já foram preenchidas) para a Mentoria Monetize – uma mentoria para você monetizar o seu conhecimento e ganhar dinheiro na internet.
Alguns de vocês pediram e inclui novas formas de pagamento.
Agora é possível parcelar o valor total em até 12x (utilizando um ou dois cartões; e também combinando cartão e pix).
🏴☠️ Medo e Delírio nas Olimpíadas de Paris
Minha tentativa de jornalismo literário (e independente) na Era dos Vídeos Curtos & dos Influenciadores Digitais volta em breve com um texto sobre as Paralimpíadas – e ainda tenho uns dois textos dos Jogos Olímpicos para sair nas próximas semanas. Escolhi escrever uma edição “normal” de Passageiro porque precisava de um respiro. Esse negócio de ser monotemático não enche apenas o leitor, mas quem escreve.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Arte e medo: Observações sobre os desafios (e recompensas) de fazer arte, por David Bayles: “O clássico underground que se tornou, junto com O caminho do artista e Roube como um artista , um dos principais best-sellers sobre arte e criatividade”.
Bati um papo muito legal com a Beatriz Bevilaqua na TV 247 (do portal Brasil 247) sobre profissões do futuro e economia criativa (e nomadismo digital, claro). A gravação está disponível no canal da TV 247.
Não tenho visto muita gente falando a respeito (até porque foi lançado em 2022), mas Entre estranhos, suspense psicológico da Apple TV+ com Tom Holland, é viciante. PS: Como as séries da Apple são boas, né?
Nick Cave e os Bad Seeds estão de volta com Wild God. Tô adorando essa fase “celestial” dele.
Quem também está com trabalho novo na praça é o Peter Cat Recording Co., banda indie indiana (alguém pra fazer um bom trocadilho?). Ouça BETA.
Finalmente me rendi ao Fontaines D.C. Romance, o álbum mais recente, é um respiro.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
Procrastinas? Se sim, como lida?
nada como o prazo para acabar com a procrastinação, principalmente se não for determinado por nós mesmos.
Só consigo imaginar máquinas não procrastinando. O problema é quando o ato se torna extremamente comum e gera uma série de cobranças, ainda mais em um momento de tantas comparações nas redes sociais