[Passageiro #87] Nick Cave e a busca pela felicidade
“Tenho uma vida plena. Uma vida privilegiada. Uma vida sem riscos. Mas, às vezes, as alegrias simples me escapam."
🧳 Clube Passageiro
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🎧 Para ler ouvindo1: Bright Horses, por Nick Cave & The Bad Seeds.
1.
Eu não deveria reclamar da minha vida; eu não deveria, mas eu posso; eu quero reclamar.
Não foi fácil chegar até aqui. Mas eu cheguei. Mas ainda não parece ser o suficiente. Nunca é.
Na virada de 2016 para 2017 minha vida daria um duplo twist carpado e, de alguém nos seus vinte e poucos nascido e criado no sul de Santa Catarina – “apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” – e completamente frustado não apenas com a sua carreira, mas com a vida de modo geral, eu me tornaria um outro alguém que realizaria o improvável sonho de viajar o mundo (enquanto trabalhava de forma remota!) antes e durante os 30; foram 30 países em seis anos de vida nômade até fixar residência em Paris (em Paris!) aos 34 – fiz 35 em maio.
2.
Paris nem é tudo isso; e viajar o mundo com uma mochila nas costas pode ser apenas uma maneira de fugir – de algo que não sabemos exatamente o quê. Mas vamos falar de outra coisa. Talvez eu volte nesse tópico durante o texto; talvez não; é provável que não. Isso é um fluxo de consciência e não pretendo voltar aqui para editá-lo. O que me faz pensar que quem utiliza o ChatGPT ou qualquer outra inteligência artificial para escrever talvez devesse tentar a sorte em outra profissão. Mas, de novo, o assunto não é esse. Quem sou eu pra julgar (aqueles!). Vamos falar de outra coisa. Vamos falar de Nick Cave.
Uma das histórias aleatórias e improváveis que mais me fascina é aquela do Nick Cave ter morado na Vila Madalena, em São Paulo, no início dos anos 1990 quando ainda não era tão famoso; e mais que isso: ter sido um frequentador assíduo da saudosa Mercearia São Pedro.
Em agosto de 2021, ao saber do fechamento da Mercearia, Nick escreveu em sua newsletter que aqueles “eram dias mais simples”.
"Todos os dias, por volta das 11 horas, eu pegava Luke, que tinha cerca de dois anos na época, e juntos subíamos a rua até a Mercearia São Pedro. Eu colocava Luke em um banquinho ao meu lado no bar e comíamos pastéis de queijo. O dono, Pedro, falava com Luke até os trabalhadores chegarem para o almoço."
"Em seguida, mudávamos para uma mesa na calçada do lado de fora e nos sentávamos ao sol. Eu lia e escrevia coisas, e Luke chupava o pirulito dele. Acho que escrevi algumas letras durante esses tempos, como The Ship Song, Papa Won't Leave You, Henry e Foi Na Cruz."
3.
Esses tempos iniciei um rascunho que não foi adiante a respeito dessa onda de livros sobre criatividade escritos por famosos – mirei principalmente na obra do Rick Rubin, O ato criativo, mas o texto sobrava também para o Fé, esperança e carnificina do Nick Cave; que vai além do tema criatividade e, para ser sincero, gostei bastante.
O título era algo na linha do “é fácil ser criativo quando você é rico e não precisa se preocupar com os boletos”. Não levei a ideia adiante porque lá pelas tantas percebi o óbvio: ainda que hoje vivam exclusivamente de arte, sem precisar vender curso ou mentoria para pagar as contas no fim do mês, tanto Rick quanto Nick também começaram do zero e enfrentaram dificuldades quando os dias eram mais simples – talvez até mais do que as dificuldades que nós, que hoje temos as redes sociais para mostrar o nosso trabalho para o mundo, temos enfrentado.
4.
Devo a vida que levo hoje, essa vida que reclamo de barriga cheia talvez até como um mecanismo de defesa do tipo “eu não mereço ser feliz”, graças, principalmente, às redes sociais. Não imagino ter chego até aqui, saindo de onde saí, sem o LinkedIn ou o Instagram.
Ao mesmo tempo, sei que esse sentimento de que falta algo, de que ainda não é o suficiente, existe também por conta das redes sociais, dessa comparação que fazemos dia após dia assistindo os stories de influenciadores, consumindo “conteúdo” como se fossemos ratinhos de laboratório sempre em busca de mais, sempre em busca de um pouquinho mais de dopamina.
5.
“Você abre o Instagram às 07:01.
Às 07:06 você já sentiu vontade de viajar para o Japão, comprar um tocador de vinil e decorar a sua sala com muitas plantas.
Às 07h07 você salva uma receita que vai preparar… um dia desses! O “na volta a gente compra” da vida adulta.
Até umas 07h09 você se pergunta como AQUELA pessoa consegue manter o padrão de vida dela e, quase sem querer, começa a criar teorias.”
Trecho de uma edição recente da newsletter .
6.
Dia desses o , que escreve a newsletter – e que talvez você conheça como um dos membros da banda Restart –, publicou um vídeo em seu Instagram com uma reflexão sobre como, numa lógica contrária, artistas têm passado mais tempo produzindo conteúdo para as redes sociais do que criando arte propriamente dita.
Ele escreveu na legenda:
“Ou a gente encontra uma forma de equilibrar a criação artística com as redes sociais ou vamos ser engolidos por uma máquina que não tem nada a ver com arte.”
7.
A próxima edição de The Red Hand Files, a newsletter do Nick Cave em que ele responde perguntas aleatórias dos fãs, será a 300ª.
Dessa vez, por sugestão de um leitor, Nick fará o contrário: ele fez uma pergunta que será respondida pelos fãs.
“Tenho uma vida plena. Uma vida privilegiada. Uma vida sem riscos. Mas, às vezes, as alegrias simples me escapam. A alegria nem sempre é um sentimento que nos é concedido gratuitamente, muitas vezes é algo que devemos buscar ativamente. De certa forma, a alegria é uma decisão, uma ação, até mesmo um método de ser praticado. É uma coisa conquistada e colocada em foco pelo que perdemos - pelo menos, pode parecer isso. Minha pergunta é: onde ou como você encontra sua alegria?”
NICK, BRIGHTON/LONDON, UK
8.
Um dia não morarei mais em Paris e escreverei sobre os dias em que morei aqui. “Passageiro: os dias parasienses” seria um bom título para uma futura continuação de um livro que sequer terminei de escrever. Um desses relatos melancólicos e saudosistas, quem sabe.
Espero, enquanto isso, que eu encontre logo a minha Mercearia São Pedro. Um lugar onde eu possa sentar despreocupado sem celular, comer pasteis de queijo, tomar uma cervejinha, ler um livro ou escrever qualquer coisa. Um lugar onde os dias sejam mais simples e as alegrias do cotidiano não me escapem.
🚨 Mentoria Monetize: resta apenas uma vaga!
Eu não posso te ensinar a ser feliz, mas posso te ensinar a ganhar dinheiro na internet – e talvez isso te deixe um pouco mais feliz.
Das oito vagas que abri para a Mentoria Monetize, uma mentoria para você monetizar o seu conhecimento e ganhar dinheiro na internet, restou apenas uma – e será a última turma de 2024.
Se você é familiarizado com o meu trabalho, já deve ter percebido que não tolero bullshitagem, de modo que durante a Mentoria buscaremos, juntos, formas realistas para você ganhar dinheiro na internet sem precisar romper com os seus valores pessoais.
Durante 6 meses você terá acesso ao meu cérebro; e às estratégias que utilizo e/ou já utilizei para vender o meu conhecimento/conteúdo na internet.
Mais que isso: durante 6 meses você verá que existe espaço para todo mundo, que seu nicho não está saturado, que você não precisa ser influenciador para ganhar dinheiro na internet, que você não precisa fazer o que todo mundo está fazendo e, principalmente, que existe vida online além do Tik Tok e do Instagram.
E, se você me permite um clichê, durante 6 meses vou te ajudar a pensar fora da caixa.
🏴☠️ Medo e Delírio nas Olimpíadas de Paris
Ainda tenho algumas poucas edições de Medo e Delírio nas Olimpíadas de Paris para soltar – não apenas das Paralimpíadas, mas também do dia que treinei com uma maratonista olímpica e de quando saí na mão com um boxeador olímpico.
Acho que vocês vão curtir.
Quem chegou agora e não sabe sobre o quê estou falando, vale maratonar as 10 edições publicadas até aqui da minha cobertura literária dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris.
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Assim como o , eu também só queria escrever umas coisas bonitas. Vale ler esse texto sobre estética, desejo e consumo.
Ainda nessa vibe de livros sobre “como fazer tal coisa”, estou lendo Anatomia da história: 22 passos para dominar a arte de criar histórias, do John Truby. Mais um belo lançamento da Seiva.
Nick Cave está em turnê e tem concedido algumas entrevistas bem legais em talk shows para divulgar Wild God, seu álbum mais recente. Vale assistir essa (em inglês) no The Late Show with Stephen Colbert. Para quem tem curiosidade sobre os anos de Nick Cave em São Paulo, há um tempo o UOL recriou os passos do músico australiano na cidade.
the vanity of existence, uma playlist para pensar na vida.
🗣 Call to action aleatória para gerar engajamento
“Tenho uma vida plena. Uma vida privilegiada. Uma vida sem riscos. Mas, às vezes, as alegrias simples me escapam. A alegria nem sempre é um sentimento que nos é concedido gratuitamente, muitas vezes é algo que devemos buscar ativamente. De certa forma, a alegria é uma decisão, uma ação, até mesmo um método de ser praticado. É uma coisa conquistada e colocada em foco pelo que perdemos - pelo menos, pode parecer isso. Minha pergunta é: onde ou como você encontra sua alegria?”
MATHEUS, IMBITUBA/PARIS, BRAZIL/FRANCE
desconfio que a real mercearia são pedro não seja um lugar físico, mas um estado de espírito.
que honra ter esse trechinho da news citado aqui :')