#122 – Um apelo a quem escreve: tenha visão de negócios
Spoiler: você não vai viver de newsletter; nem de livros.
A newsletter Passageiro é um veículo independente e gratuito cujo conteúdo é escrito de maneira orgânica por um único humano – sem a ajuda de outras “inteligências”. Os textos aqui publicados têm como público-alvo pessoas reais – e não mecanismos de busca ou algoritmos –, de modo que, caso você seja um outro humano, talvez se identifique com o que é escrito neste espaço.
Considere assinar um dos planos pagos para ter acesso a textos exclusivos e outros bônus – incluindo encontros mensais com convidados (humanos) do mais alto calibre (já passaram pelo Clube Passageiro nomes como Carol Bensimon, J.P. Cuenca, Pe Lu, Tira do Papel, Arthur Miller, entre outros).
🎧 Para ler ouvindo1: Loser, por Tame Impala.

📍 Koh Phangan, Tailândia
✍️ Por Matheus de Souza
Escritor e viajante. Autor de Nômade Digital, livro finalista do Prêmio Jabuti.
1.
No próximo mês, a newsletter Passageiro completa três anos. Monetizada, Passageiro está desde maio de 2023; quando me mudei para Paris e, por conta da cotação do euro, precisei pensar em novas fontes de renda.
Passageiro é, segundo o Sidestack, a maior newsletter monetizada em língua portuguesa na categoria Literatura no Substack2.
Considerando apenas os assinantes gratuitos, Passageiro aparece em sétimo lugar no ranking da sua categoria.
Quanto ganho mensalmente com a newsletter?
Aproximadamente R$ 1 mil.
Uma boa renda extra. Paga alguns custos fixos do meu CNPJ. E só.
2.
Meu único livro publicado até aqui, Nômade Digital: um guia para você viver e trabalhar como e onde quiser, foi finalista do Prêmio Jabuti em 2020 e vendeu relativamente bem: 6.080 exemplares (3.509 físicos; 2.571 digitais) desde o seu lançamento em agosto de 2019.
Quanto ganhei com o livro de lá para cá?
Pouco mais de R$ 10 mil.
Recebo 7% de direitos autorais na versão física e 25% na digital.
Os pagamentos são feitos a cada 6 meses e no melhor semestre faturei mais de R$ 3 mil – se você dividir isso por 6 meses, significa que ganhei em torno de R$ 500 por mês no período de maior bonança.
3.
Não quero soar alarmista, não quero destruir o sonho de ninguém, mas a não ser que você escreva em língua inglesa (e seja famoso ou famosa em língua inglesa!; veja que não basta escrever!) ou em termos nacionais seja, sei lá, o Paulo fuckin’ Rabbit, desiste, cara: você não vai viver exclusivamente de newsletter ou de livros.
Também digo isso porque, a não ser que você escreva por hobby, ou seja, sem a menor pretensão de ganhar algum trocado com o seu trabalho – ou mesmo considerar a escrita um trabalho –, deve saber que a vida de quem escreve no Brasil está longe de ser essa ideia romantizada por recém-chegados no Substack que postam fotos de Carrie Bradshaw3 ou Joan Didion achando que a plataforma é o Pinterest da escrita. Não é. O Substack é exatamente isso: uma plataforma; que, por ter captado US$ 100 milhões em investimentos, está (e ficará) cada vez mais com cara de… rede social. Não há como fugir do capitalismo.
4.
Entre os que estão há mais tempo no Substack, surge uma nova reclamação: os gurus do marketing digital estão chegando em peso e “arruinando” o nosso cantinho acolhedor, o nosso Pinterest da escrita, a nossa plataforma fofinha na internet.
Também fui desses que torceu o nariz assim que vi as primeiras publicações no Notes com SeTe DiCaS PaRa VoCê CrEsCeR o SeU sUbStAcK 🤪 (a qUiNtA vAi tE sUrPreEnDeR), mas assim como a inteligência artificial, esses caras (geralmente são uns caras!) são um mal necessário, são a mão invisível que autorregula a qualidade do mercado; ouso dizer que para vencer a competição, em ambos os casos, basta ser um pouco acima da média e autêntico naquilo que você faz para não ser visto como mais um datilógrafo de prompt; ou seja, não se preocupe nem com IA nem com guru, foca em fazer o teu bem feito; e faça bem feito semana atrás de semana até ser impossível ignorar teu trampo; a inovação sempre surge em cenários assim – aprendi isso, veja só você, num MBA em Gestão de Negócios.
5.
Eles podem não ter conteúdo, podem não ter personalidade, podem até não ter ética (!), mas goste você ou não dos gurus, temos que tirar o chapéu para uma coisa: os caras sabem ganhar dinheiro; algo que nós, pessoas com pretensões artísticas, temos uma dificuldade danada.
E aqui chegamos num ponto que considero sensível: há um certo medinho por parte de quem cria na internet em ser taxado como guru, como vendedor de curso, esses termos que tornaram-se algo pejorativo no digital. Como um vendedor de curso convicto – curiosamente meu último emprego como CLT foi justamente vendendo cursos; eu trabalhava no setor de marketing/vendas de uma faculdade –, alguém que enxergou na educação não apenas uma fonte de renda digna, mas um prazer genuíno em ensinar, em passar adiante aquilo que aprendi na prática, assino e dou fé que: o problema não está na venda de cursos; o problema está nos métodos.
Assim que saí da tal faculdade e comecei a trabalhar de forma autônoma – primeiro com freelas de redator; depois efetivamente como vendedor de curso –, passei a acompanhar de perto este mercado de infoprodutos. Como falei, os caras sabem ganhar dinheiro, de modo que, excluindo a parte antiética do negócio – gatilhos mentais, promessas vazias, cursos sem qualidade –, nós, pessoas com pretensões artísticas, podemos (e devemos) adaptar o que funciona nesse mercado para a nossa realidade.
Foi com os gurus que aprendi sobre e-mail marketing, sobre funil de vendas, sobre linha editorial, sobre automações, sobre esteira de produtos; e foi a partir daí que percebi cedo que o ouro do Substack não está na venda de assinaturas, mas na criação de comunidade; está em manter seus leitores engajados para, eventualmente, vender algo com um ticket maior: um curso, uma mentoria, algum serviço.
6.
De certa forma, o fato de o Substack estar caminhando para um modelo de rede social pode ser ainda mais interessante para quem escreve; é mais uma oportunidade para escritores e escritoras fora dos grandes centros, fora das rodinhas certas, terem algum tipo de chance; você não saberia, Tati Bernardi…
Talvez o grande ponto deste texto seja: quem não se adaptar, ficará para trás (ou terá que voltar para a CLT, como vários influenciadores têm feito após o dinheiro das publis ter se fragmentado; não ponha seus ovos na mesma cesta!).
Dostoiévski, se estivesse vivo, certamente estaria ganhando mais dinheiro com vídeos gravados para o YouTube em algum subsolo de São Petersburgo do quê com seus livros; Kafka estranhamente faria algum sucesso no LinkedIn.
E o conselho aqui também se estende aos produtores de conteúdo sem pretensões artísticas: não baseiem o modelo de negócios em publicidade ou monetização que dependa de terceiros (ex: Substack; YouTube): criem seus próprios produtos, criem seus próprios serviços.
Deixem de ser tontos.
🧑🎓 Programa de Aceleração para Artistas e Criativos
Essa é a hora que sem embaraço algum eu vendo o meu trabalho; não escrevo essa newsletter por hobby – ela é um meio para fazer meu nome e vender as minhas paradas.
Dito isso, tem novidade na Passageiro Academy que vai te ajudar a tirar suas ideias do papel e/ou aumentar sua presença como Creator – essa palavrinha em inglês para quem cria; para que tem algo a dizer.
Acabo de lançar oficialmente o Programa de Aceleração para Artistas e Criativos – encontros 1:1 feitos sob medida para que você, aí do outro lado da tela, não seja mais um na multidão.
🧑🎓 Cursos com inscrições abertas
✍️ Escrita Criativa
– Desenvolva seu processo criativo e rompa bloqueios mentais – sem o auxílio de inteligência artificial. (infos aqui)
🎒 Escrita de Viagem
– Faça seus leitores viajarem com você. (infos aqui)
🏴☠️ Faça (Você Mesmo)
– Monetize o seu conhecimento e crie um negócio sustentável de uma pessoa só; e sem surtar. (infos aqui)
🧠 Para ler, assistir e ouvir
Estou lendo e destacando vários trechos de Morre a mulher que não viaja: Um metalivro sobre viajar para fora, para dentro (e por palavras), obra editada em três continentes por e Marina Stüpp.
Paris: sobre amar e deixar; esse texto do bateu diferente por aqui; e tem tudo a ver com a edição anterior de Passageiro.
Você abriu um Substack... mas o que diabos você vai publicar aqui? Confira este guia do .
Influenciadores B2B: a sua "buyer persona" também é cronicamente online; este texto da .
Tô meio órfão de séries. Alguma dica?
Essex Honey, o novo álbum do Blood Orange; Double Infinity, o novo do Big Thief.
Você sabia que esta newsletter tem uma playlist no Spotify com todas as músicas indicadas aqui? Pois é. A Rádio Passageiro é atualizada semanalmente.
É difícil dizer se os dados são acurados porque Nevoeiro, da Carol Bensimon, sequer aparece na lista; de qualquer maneira, Passageiro deve figurar no top 5.
A personagem de Sarah Jessica Parker em Sex and the City.
Que aula, cara; ainda mais pra mim que acabo de chegar no Substack. Por sinal, valeu demais por indicar meu último texto! 💛
Concordo demais. Eu preciso aprender. Mas é tão custoso rsrs