[Clube Passageiro #18] Viver de arte (feat. Pe Lu, da banda Restart)
OUTUBRO/24 - Confira as informações sobre o encontro #18 do Clube Passageiro.
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens.
Para participar dos bate-papos mensais e ter acesso ao nosso grupo fechado no Telegram, basta assinar um dos planos pagos da newsletter – assinantes pagos da newsletter Passageiro também têm acesso a uma edição extra e mensal com os bastidores do processo de escrita do meu primeiro romance.
Desde maio de 2023, quando o Clube Passageiro foi fundado, 17 workshops com os mais variados temas foram realizados – e assinantes do Plano Vitalício têm acesso a todo o acervo (são mais de 30h de conteúdo!).
Em nossa comunidade fechada no Telegram você poderá trocar ideias sobre escrita, processo criativo e mercado literário com outros participantes – e comigo; perguntas sempre serão bem-vindas.
Assim que você escolher um dos planos disponíveis, receberá um e-mail com as instruções para participar da comunidade exclusiva no Telegram e dos workshops mensais via Google Meet.
🎧 Para ler ouvindo1: Levo Comigo, por Restart.
1.
O sinal aberto da MTV Brasil chegou em Imbituba no longínquo 2006. Eu tinha 17 na época, estava no último ano do ensino médio, naquela fase esquisita da vida em que nos sentimos os donos do mundo ao mesmo tempo em que morremos de medo do que virá a seguir.
Acho que eu nunca soube direito o que queria “fazer da vida” após a escola (minhas opções no vestibular deixam isso claro: relações internacionais ou educação física!), mas algo sempre esteve mais ou menos claro por aqui: ainda que ciente das minhas limitações artísticas, eu não queria trabalhar num escritório como a maioria dos adultos que eu conhecia; eu queria andar com os descolados, queria que meu ambiente de trabalho fosse como a MTV, quem sabe trabalhando atrás das telas como roteirista de qualquer coisa – nunca me dei bem com as câmeras –, queria conversar com meus colegas sobre bandas obscuras de shoegaze, frequentar premiações e os eventos do momento; eu queria viver de arte, mas com um porém: eu não sabia fazer arte.
2.
Quando comecei a escrever no meu blog, em 2013, já “velho” aos 24, o sonho, evidentemente, não era viver de marketing de conteúdo; eu realmente queria viver de arte e, na época, inspirado principalmente por Jack Kerouac – e talvez pelo simples fato de ter as habilidades necessárias2–, decidi que quer saber?, serei escritor.
3.
“Eu sou escritor.”
Você, querido leitor e querida leitora que me acompanha há mais tempo, sabe que entre 2017 e 2023 viajei o mundo trabalhando de forma remota, nômade digital, aquela coisa toda.
A primeira vez que falei em voz alta “eu sou escritor” foi numa imigração.
Aqui vai um trecho adaptado e inédito de Passageiro, o livro:
“O que você veio fazer em Portugal?”
“Turismo.”
“Quanto tempo irás ficar cá?”
“14 dias.”
“E depois? Voltas para o Brasil?”
“Não. Vou para a França.”
“Mostra-me o bilhete.”
“Aqui, senhor.”
“E o Brasil?”
“Não sei quando volto.”
“Não sabes quando voltas? O que fazes da vida?”
“Sou escritor.”
“Escreves sobre o quê? Escreves livros?”
“Tenho escrito sobre viagens. Meu primeiro livro será publicado em breve.”
“Então estás aqui para escrever sobre a vossa viagem?”
“Não. Estou aqui para fazer turismo.”
“E não vais escrever nadinha sobre Portugal?”
“Não. Quer dizer, não sei. Não tenho nada em mente.”
“Há muitas coisas que podes escrever sobre Portugal.”
“Eu sei.”
“Onde vais ficar aqui em Lisboa?”
“Num barco. Eu vou ficar em um barco ancorado na Doca de Belém.”
“Espera um bocadinho. Deixa-me ver se entendi. Tu és escritor, escreves sobre viagens, vais ficar num barco e não vais escrever sobre isso?”
4.
Eu escrevi.
5.
Alguns momentos nos mudam pra sempre; acho que o sinal da MTV ter chego em Imbituba naquele 2006 foi um desses.
Lembro exatamente do momento em que o clipe de Crying Lightning, dos Arctic Monkeys, estreou na programação; foi a primeira vez que ouvi o que viria a ser a minha banda favorita da vida.
6.
De acordo com a minha pesquisa, a ainda não era VJ em 2009 quando o clipe de Crying Lightning foi lançado, mas o próprio fato de eu ter entrado no Substack – e hoje ter mais de 10 mil pessoas me acompanhando por aqui – também está ligado à MTV; a Gaía foi a minha referência em escrita de viagens assim que eu descobri que uma daquelas pessoas descoladas que fazia expediente no canal musical tinha um blog sobre viagens (saudades do “How to Travel Light!”); ela também foi a primeira brasileira a fazer barulho no Substack (assinem a !).
Obrigado, Gaía!
7.
É o Fête de la Musique em Paris, estou com Pe Lu, um dos integrantes da Restart, provavelmente a última banda brasileira de rock a ter relevância nacional e espaço nos principais programas de auditório da TV aberta (Faustão, Gugu, Sílvio Santos, Jô Soares; a sua mãe conhece a Restart), quando somos parados por um grupo de brasileiros.
“Pe Lu, deixa eu te dizer, sou muito sua fã. Você pode tirar uma foto comigo?”
Faz quase dez anos desde que a Restart, a banda que eu assistia na MTV numa TV de tubo de 14 polegadas no meu quarto na casa dos meus pais, interrompeu as suas atividades.
“Como é ser famoso?” – pergunto para Pe Lu após ele, pacientemente e sempre com um sorriso no rosto, tirar várias fotos com seus fãs brasileiros em Paris; eu aprenderia naquele dia que basta um fã criar coragem para todos os outros ao redor pedirem uma foto.
8.
Não posso dizer que hoje vivo da minha arte porque, evidentemente, não vivo; mas talvez viva por ela. E a real é que o próprio conceito de “viver de arte” mudou ao longo dos anos; então talvez eu até viva, mas assim como o Poeta de Sunga, precise ser constantemente elogiado; do contrário o vazio nunca é preenchido.
Dito tudo isso, queria comunicar que , músico, compositor, produtor e mentor musical com mais de 500 mil discos vendidos e 1 bilhão de streamings nas plataformas é o próximo convidado do Clube Passageiro – ah, ele também tem uma newsletter por aqui; a .
O que posso dizer é que, sim, será um papo nostálgico, quem tem mais de 30 certamente irá adorar, mas a conversa também será uma grande reflexão em grupo (conto com vocês) sobre os rumos que o “viver de arte” têm tomado; o Pe Lu começou no finado MySpace (!), passou por Fotolog e Orkut, viu plataformas surgirem e sumirem na mesma velocidade, viveu a fama, os julgamentos, o hate e, pra nossa sorte, segue aqui fazendo o que ama; e inspirando outros artistas a fazerem o mesmo.
9.
A Restart está de volta para uma turnê de despedida.
Os dois últimos shows da banda serão em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Segue a agenda:
26 de outubro – São Paulo, SP; Espaço UNIMED. Ingressos aqui.
02 de novembro – Rio de Janeiro, RJ; Farmasi Arena. Ingressos aqui.
Entre um show e outro, no dia 30 de outubro, o Pe Lu conversa com a gente às 18h do Brasil no Clube Passageiro.
Nos vemos lá?
🗓️ O que você precisa saber sobre o bate-papo com o Pe Lu
Tema: Viver de arte.
Data: quarta-feira, 30 de outubro de 2024.
Horário: 18h de Brasília.
Duração: cerca de 1h30 (diferente dos outros encontros, dessa vez não teremos um workshop propriamente dito, mas um bate-papo, uma espécie de podcast em que eu e vocês seremos os entrevistadores; vocês, assinantes pagos, podem enviar perguntas no Telegram).
Como participar: inscrevendo-se em qualquer um dos planos pagos do Clube Passageiro.