[Passageiro #89] 2 anos e 10 mil assinantes depois, o que eu aprendi; e o que vem por aí
Tem sido uma viagem e tanto – mas é só o começo. 🏴☠️
🧳 Clube Passageiro
O Clube Passageiro é uma comunidade que se encontra uma vez por mês para papear sobre escrita, produção de conteúdo, monetização, livros e viagens.
Para participar dos bate-papos mensais e ter acesso ao nosso grupo fechado no Telegram, basta assinar um dos planos pagos da newsletter – assinantes pagos da newsletter Passageiro também têm acesso a uma edição extra e mensal com os bastidores do processo de escrita do meu primeiro romance.
Desde maio de 2023, quando o Clube Passageiro foi fundado, 16 workshops com os mais variados temas foram realizados – e assinantes do Plano Vitalício têm acesso a todo o acervo (são mais de 30h de conteúdo!).
Em nossa comunidade fechada no Telegram você poderá trocar ideias sobre escrita, processo criativo e mercado literário com outros participantes – e comigo; perguntas sempre serão bem-vindas.
Assim que você escolher um dos planos disponíveis, receberá um e-mail com as instruções para participar da comunidade exclusiva no Telegram e dos workshops mensais via Google Meet.
🎧 Para ler ouvindo1: Alone, por The Cure.
1.
O leitor mais antigo deste intrépido escritor talvez lembre que Passageiro não é minha primeira tentativa de newsletter.
Em meados de 2015, quando comecei a produzir conteúdo no LinkedIn de forma consistente, assisti um vídeo de um desses gurus do marketing digital dizendo que o ativo mais importante para quem cria na internet é o endereço de e-mail das pessoas – não lembro palavra por palavra, mas a lógica era essa.
Entre 2015, após receber o conselho do guru, e 2022, antes do nascimento de Passageiro, mantive uma outra newsletter – ela não tinha nome; era só a newsletter do Matheus haha – cujo formato era bem parecido (para não dizer roubado) com o da newsletter do Austin Kleon, o autor de Roube como um artista – aparentemente levei o conselho ao pé da letra.
Durante sete anos ininterruptos enviei e-mails com 10 coisas que li/vi/ouvi durante a semana para uma audiência que chegou aos 15 mil assinantes (e que me fazia gastar uma nota com uma ferramenta de e-mail marketing; Substack e Flodesk ainda não existiam).
Em outubro de 2022, após flertar um tempo com o oceano azul de oportunidades do Substack, resolvi deixar essa audiência para trás (no formato newsletter; não em termos de e-mail marketing – daí o Flodesk) e comecei um novo projeto, Passageiro, do zero.
Mas nem tão do zero assim, eu acho.
Passageiro talvez tenha começado bem antes, em 2013.
2.
Ter minhas crônicas publicadas na Folha de S.Paulo sempre fez parte do meu “plano de carreira” como escritor.
A sequência ideal imaginada era 1) publicar o livro sobre nomadismo digital (✅ 2019), 2) publicar o livro com crônicas de viagem (⏳ 2025), 3) ser publicado na Folha (✅ 2022), 4) publicar um romance (⏳ 2025) e 5) vender os direitos de um livro meu para o audiovisual (👀).
Esse negócio da Folha tem a ver com o meu próprio início como escritor. Em 2013, deixei Imbituba, minha cidade natal no litoral de Santa Catarina, e fixei residência na vizinha Tubarão por conta de uma oportunidade de trabalho.
Eu trabalharia os próximos quatro anos em uma faculdade em um cargo que, oficialmente, seria Assistente de Atendimento & Vendas, mas na prática estava mais para Faz Tudo Relacionado ao Atendimento & Vendas & Marketing & Tecnologia Porque Você Aprende Rápido e Pra Gente Vale Mais a Pena Financeiramente Te Explorar do que Contratar Mais Gente.
O salário inicial era R$ 1.428,00, sendo reajustado a cada ano de acordo com a inflação – quando me demiti, em 2017, eu ganhava R$ 1.632,00 –, de modo que meu primeiro endereço em Tubarão foi uma kitnet em um prédio comercial de dois andares cujo aluguel era R$ 480,00 + luz e água.
Infelizmente não tenho fotos para ilustrar, mas o lugar seria um bom cativeiro para um sequestrador em início de carreira. A única janela, que na verdade era um basculante minúsculo, ficava na cozinha – que consistia em uma pia, um fogão de duas bocas mais velho que eu, uma geladeira caindo aos pedaços e uma cadeira e uma mesa de plástico; uma divisória, também de plástico, separava a cozinha dos meus aposentos: uma cama parcialmente quebrada comida por cupins, um guarda-roupas idem, uma escrivaninha que eu trouxe da casa dos meus pais – onde eu escrevi os primeiros textos do meu blog – e uma TV de tubo de 20 polegadas que ganhei do meu avô (aquele avô) quando ele comprou uma nova. Havia também um pequeno banheiro, pequeno mesmo, o chuveiro ficava em cima da privada e a água quente durava apenas uns poucos minutos; foram vários banhos gelados durante o inverno catarinense.
Além de não ter janelas, as telhas eram aquelas onduladas de fibrocimento (as famosas telhas Brasilit), o que transformava o pequeno cativeiro em uma sauna infernal durante o verão. Meu expediente tinha um horário meio fora do padrão, ia das 12h30 às 22h, de modo que eu costumava deixar o basculante aberto para o espaço estar arejado quando eu chegasse. Em duas ocasiões, durante um verão infernal, fui recepcionado por nuvens de cupins. Na última delas, escorei minhas costas na parede e, exausto, chorei sentado no chão do pequeno cativeiro.
3.
Minhas únicas distrações na época eram os livros – li praticamente tudo dos beatniks e dos russos – e a Folha que eu roubava do meu vizinho de porta, um escritório de advocacia. O entregador chegava todos os dias antes do escritório abrir, de modo que assim que eu o escutava chegando, corria para roubar o meu exemplar – às vezes eu roubava o jornal inteiro, às vezes apenas os cadernos de cultura para ler, principalmente, as crônicas do , muitas delas contando suas viagens pelo mundo, um mundo que eu sonhava conhecer, mas que, varrendo as asas dos cupins no chão do pequeno cativeiro, parecia tão distante.
Certo dia, após vários jornais que “não foram entregues”, o escritório finalmente cancelou a assinatura da Folha.
4.
Quase dez anos depois eu estava em Koh Phangan, na Tailândia, quando, pela primeira vez, a Folha publicou um texto assinado por mim; uma crônica de viagem, assim como aquelas que o J.P. Cuenca publicava e eu lia em um exemplar roubado no pequeno cativeiro em Tubarão.
Isso foi em 14 de abril de 2022, não faz tanto tempo assim, mas sei que a sensação em ver o texto na Folha assinado por mim seguirá por aqui ao longo dos anos. A Tailândia tem uma diferença de 10 horas em relação ao Brasil, lembro de ter acordado naquele dia em Koh Phangan já sabendo que o texto seria publicado, mas por conta do fuso tive que lidar com a ansiedade até metade da noite quando, enfim, o , da newsletter , na época o responsável pelo blog Check In, onde meus textos seriam publicados, enviou o link. Esse link. Meu primeiro texto na Folha.
5.
Faço um post no Instagram contando a novidade, abraço I. e subo na motinho alugada para buscar nossa janta em um restaurante local – fried rice vegetariano para ela, fried rice com camarão pra mim. Uma chuva fina cai e durante todo o trajeto não consigo tirar um sorriso bobo do rosto.
Coincidentemente, escrevo essas linhas após ter ido buscar nosso almoço – fried rice vegetariano para ela, fried rice com camarão pra mim – em um restaurante tailandês aqui perto de casa; a casa, hoje, é Paris. Lembro dessa história durante o trajeto enquanto uma chuva fina molha a Rue Pierre Fontaine e Alone, a nova do The Cure, toca nos fones de ouvido. Dessa vez estou a pé, mas também abro um sorriso, o mesmo sorriso bobo de Koh Phangan.
6.
O sonho na Folha duraria pouco. Apenas três textos assinados por mim depois as coisas mudariam no jornal e minhas crônicas não seriam mais bem-vindas. Eu passaria os próximos meses desanimado com a oportunidade perdida, com o sonho que escapou entre os meus dedos. Foi um golpe duro. É uma daquelas situações que, além de tudo, mexe com o nosso ego, coloca o que a gente acredita em cheque, deixa a autoestima lá embaixo.
Meses depois eu estava em São Paulo, passagem comprada para a Itália, onde I. faria o processo da sua cidadania italiana, quando tive a ideia de criar um projeto para preencher esse vazio da Folha. Na época eu estava escrevendo um livro com crônicas de viagem (ainda estou) e a ideia inicial era compartilhar o processo de escrita da obra tendo como pano de fundo a vida na cidadezinha da costa da Toscana em que moraríamos pelos próximos três meses.
Lembro dos áudios trocados com os T(h)iagos, o e o do , em que conto as novidades, falo do frescor de trabalhar em um novo projeto, sobre começar do zero sem importar a lista de e-mails da newsletter antiga, a tentativa de virar a página da Folha.
O formato de Passageiro mudou durante esses dois anos, vocês me acompanharam não apenas na Itália, mas também na Albânia e na Tailândia até o fim da vida nômade nos levar à Paris, acompanharam o nascimento do Clube Passageiro – e os assinantes pagos da newsletter agora têm acompanhado o nascimento do meu primeiro romance –, acompanharam uma improvável cobertura literária dos Jogos Olímpicos de Paris – cujo credenciamento aconteceu justamente por conta das portas da grande mídia terem se fechado mais uma vez para mim.
Foram dois anos intensos, dois anos de muito trabalho e de muito aprendizado, sou muito grato a cada um dos 10 mil leitores que me acompanham semanalmente por aqui, mas agora é hora de escrever um novo capítulo; é preciso o frescor de um novo projeto2.
– Faça você mesmo 🏴☠️
Uma newsletter do Grupo Passageiro (sim, Grupo!; vem mais coisa por aí 👀)
Na acreditamos que cada um de nós tem o poder de transformar ideias em ação e paixões em negócios. Nós não esperamos a validação de ninguém, não pedimos permissão. Nós criamos. Nós inovamos. Nós nos desafiamos a ser livres em um mundo de fórmulas prontas.
Assim como o movimento punk desafiou o sistema nos anos 1970, nós desafiamos as regras do mercado tradicional; ou melhor: nós criamos as regras. Somos artistas, escritores, freelancers; somos empreendedores criativos. O sistema diz que precisamos de grandes estruturas e corporações para ter sucesso. Nós dizemos que somos a nossa própria estrutura. Nós somos a ideia, o projeto, o negócio e o produto final.
Não nos limitamos ao que já foi feito porque o que criamos é único. Na escrita, nas artes visuais, no design ou em qualquer expressão criativa, acreditamos no poder de fazer as coisas com nossas próprias mãos e mentes. Não terceirizamos nossa visão.
Não somos só escritores de palavras, somos escritores do nosso destino. Ser um empreendedor criativo é pegar o que nos move, o que nos inspira, e transformá-lo em uma forma de viver, de ganhar a vida, de impactar o mundo. Nossa arte não é apenas arte – é um movimento, uma forma de nos conectarmos profundamente com aqueles que valorizam o que criamos.
Acreditamos na liberdade radical de sermos o que quisermos. Em um mundo que tenta nos padronizar, escolhemos o caminho da expressão. Negamos o conceito de que precisamos seguir carreiras convencionais ou buscar segurança no previsível. Para nós, não há separação entre arte e vida. Nossa criação é nossa existência. Nosso trabalho é uma extensão da nossa alma.
Criar é se libertar. Somos empreendedores, mas, antes de tudo, somos criadores. Ao abraçar nossa liberdade criativa, assumimos também o controle das nossas vidas e carreiras. Cada passo no caminho é feito de forma autêntica e orgânica. Não vendemos nossa alma por sucesso. Nosso sucesso nasce da fidelidade ao que somos e ao que criamos.
A nasce como um espaço de troca, de inspiração, de suporte para aqueles que têm coragem de criar e de ser. É por isso que escrevo esse manifesto no plural.
Aqui, compartilhamos estratégias para transformar talento em negócios e sonhos em realidade. Mas, acima de tudo, compartilhamos a visão de que cada um de nós pode e deve fazer do seu próprio jeito.
Este é o chamado para todos que querem construir com as próprias mãos; seja com palavras, arte ou ideias.
Se você é escritor, freelancer ou criativo, junte-se ao movimento. Nós estamos aqui para inspirar, apoiar e empoderar. Estamos aqui para garantir que cada um de nós possa transformar sua paixão em uma vida sustentável e próspera.
Seja o protagonista da sua criação.
Seja o dono da sua jornada.
Crie. Trabalhe. Faça você mesmo.
Toda sexta-feira, a partir do próximo dia 11, em sua caixa de entrada. E de graça.
Ah, e sim, mais uma vez começarei do zero. Ou quase isso. Não importei a lista de e-mails da newsletter Passageiro para a , de modo que, caso você tenha interesse em receber os conteúdos, deverá assinar gratuitamente na caixa acima ou diretamente neste link.
Você sabia que a newsletter Passageiro tem uma playlist com todas as músicas indicadas aqui? Ela é atualizada semanalmente.
A newsletter Passageiro continua normalmente às terças, ok? (Sim, eu sei que hoje é quarta, mas vocês entenderam).
O mundo é tão redondo —apesar de algumas pessoas dizerem o oposto— que hoje sou eu que estou viajando pelo Sudeste Asiático e você tem um lar aconchegante, numa cidade bem mais agradável do que São Paulo.
Lembro com carinho de nossas trocas de mensagens daqueles tempos. E eu sei que sonho é sonho, mas a Folha perdeu muito em não ter você entre seus colaboradores. Suas crônicas/newsletters têm mais liberdade aqui (e bem menos haters) do que se estivessem lá.
Já estou ansioso por esse novo projeto. Vida longa a ele!
Que demais ler seu relato, Matheus! Te acompanho quietinha há tempos na Internet, em diferentes lugares. Foram alguns dos seus textos que me fizeram querer ser nômade uma época. Hoje os sonhos mudaram e se realinharam, a escrita tomou a dianteira e sigo te admirando nessa fase. :) É bom saber que quem "chegou lá" também passou seus perrengues, acho que assim a gente lembra que tudo é movimento .